A propósito dos Contos Eróticos e dos Novos Contos Eróticos do Velho Testamento (publicados respectivamente em 2003 e 2004), referi-me à Bíblia em termos ainda mais violentos do que os de Saramago, numa entrevista que me fez Maria Teresa Horta para o Diário de Notícias (ver texto "Todos os defeitos e poucas virtudes", mais abaixo).
Não logrei, contudo, provocar a ira da Igreja, certamente porque, nesse tempo, eu era uma escritora quase desconhecida, o que mostra ser a indignação prosélita causada muito mais pela salvaguarda das aparências do que por verdadeira indignação.
Para quem não o ouviu ou para os que desejam recordá-lo, aqui vos deixo as palavras de Saramago de viva voz.
Blogue da escritora Deana Barroqueiro sobre o desrespeito dos direitos humanos e a violência contra mulheres e crianças.
Romance: Tentação da Serpente
Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento.
Uma história de mulheres, para mulheres, de que os homens também gostam.
"Tentação da Serpente" é uma reedição de "O Romance da Bíblia", publicado em 2010.
23 junho 2010
17 junho 2010
O "Romance" no Luso Americano
O Luso Americano, nos Estados Unidos da América, foi o primeiro jornal a falar de mim e dos meus livros, pela voz de Fernando dos Santos, o seu Editor, seguido pelo Portuguese Sun, do Canadá, na pena de Fernando Cruz Gomes.
Foi graças aos artigos destes dois jornais que, mais tarde, os media de Portugal se aperceberam da minha existência. A eles devo ter recebido um louvor da Câmara de Newark pelo trabalho de divulgação da Cultura e Língua Portuguesa, entre os emigrantes.
Ao longo de dez anos, o Sol Português e o Luso Americano não cessaram de dar notícias das minhas obras, como se pode ver na página 8, desta edição de Maio, por Fernando dos Santos.
Clicar na imagem para vê-la em tamanho grande e legível.
14 junho 2010
Apresentação em S. Pedro do Sul - Isabel Prates
Deana Barroqueiro dedica Tentação da Serpente/O Romance da Bíblia “A todas as Mulheres mal-amadas, sofridas, exploradas, maltratadas, violentadas ou assassinadas em nome de uma religião, tradição, ideologia ou preconceito.”
Desde o início este é, claramente, um romance no feminino, mas superior ao género e ao número, imune às grades convolutas do tempo e do espaço. E toca todas as farpas que ainda ferem a condição da mulher na sociedade actual: a religião, a tradição, a ideologia e o preconceito
É formado por um texto introdutório, repassado de uma fina ironia, que serve para mergulhar o leitor no tema e no contexto, que nos promete um sentido de humor inteligente, completamente livre de peias e despudorado. O episódio da criação divina da mulher e da sua apresentação ao primeiro homem seria hilariante se não fosse tão tragicamente humano.
Seguem-se 19 capítulos-contos, que apesar de serem estruturalmente compartimentados se encaixam no esqueleto do romance, conferindo-lhe consistência e unidade. Cada conto que terminamos faz-nos iniciar avidamente o seguinte, presos na teia das palavras, magistralmente vivas, que nos fazem vibrar e sofrer, como se cada personagem fosse parte da nossa própria vida. E cada personagem é simultaneamente do seu tempo e do nosso e nós descobrimos, em puro espanto, que somos simultaneamente do nosso tempo e do delas, como se o tempo fosse um rio e a perspectiva apenas mudasse consoante a margem donde o observamos.
É um romance construído no feminino, mas desenganem-se aqueles que pensam que é uma apologia cega da mulher! As personagens são mulheres no feminino real, com a sua força, como Maqueda, a rainha do vento sul, a sua coragem, como Susana, a sua sensibilidade como Judite e também com a sua manha, como a prostituta Dalila e a sua maldade. São mulheres que despertam a nossa compaixão, como a infeliz Adah e mulheres que despertam a nossa revolta, como Sara, porque o sofrimento não pode ser pretexto para a crueldade, sobretudo quando exercida contra quem é indefeso, como a sua escrava Agar.
Também as personagens masculinas são resgatadas do estereótipo original, e descobrimos a cobardia desprezível de Abraão, o desespero do pobre Jacob, que se deu conta de que o paraíso masculino é afinal um inferno, com aquelas 4 mulheres insaciáveis e vorazes. (Eu desconfio, aliás, que depois deste romance, haverá uma procura imensa de mandrágoras!) a fiel integridade de José, a crueldade do hipócrita Makhir que se desculpava do seu atroz egoísmo com a vontade de Deus, a correcção e a sensibilidade amorosa de Booz, a astúcia de Tobias para resgatar a esquizofrénica Sara das garras de Asmodeu.
Tentação da Serpente/O Romance da Bíblia é, inevitavelmente um romance polémico, porque ousa tocar uma temática muito sensível. E é incómodo porque nos mostra que a nossa sociedade não é, na prática, assim tão diferente da misoginia praticada nos tempos bíblicos. É incómodo porque nos faz pensar, porque nos obriga a ver com olhos desvendados.
Aqueles que, à partida, questionam a validade do romance porque recria as velhas histórias da Bíblia, aposto que nunca leram o texto que aceitam como sagrado e se o fizeram, certamente não leram o romance. Se o lessem perceberiam que não há nele qualquer desrespeito pela Bíblia. Há apenas o resgate da velha arte de ensinar que anima o contador de histórias. Há histórias que nos divertem e nos dão lições de vida. Há vidas que nos pregam dolorosas rasteiras e nos fazem questionar a nossa fé e as nossas convicções. As personagens, como Salomão, têm crises de fé e questionam-se, como nós, como pode Deus, sendo Todo-poderoso, permitir o sofrimento de quem não tem qualquer sombra de culpa. Só o fundamentalismo cego tem a pretensão de manter intocável um texto sagrado.
Eu acredito convictamente que em literatura não há intocáveis.
A escrita de Deana Barroqueiro tem a leveza e a aparente facilidade do que é perfeito. Tem a maturidade de quem já nada precisa de provar, tem a beleza de quem pinta com palavras todos os matizes da sensibilidade humana e tem a força interventiva de quem não baixa os braços e faz das palavras as armas de paz para construir uma sociedade mais justa e mais humana.
Eu diria mais feminina… mas acho que é pura provocação.
Eu admirava a escrita de Deana Barroqueiro. Agora que tive o prazer de a conhecer pessoalmente penso que aquela escrita só poderia nascer de uma pessoa assim: admiravelmente bonita e humana.
Maria Isabel Prates
Desde o início este é, claramente, um romance no feminino, mas superior ao género e ao número, imune às grades convolutas do tempo e do espaço. E toca todas as farpas que ainda ferem a condição da mulher na sociedade actual: a religião, a tradição, a ideologia e o preconceito
É formado por um texto introdutório, repassado de uma fina ironia, que serve para mergulhar o leitor no tema e no contexto, que nos promete um sentido de humor inteligente, completamente livre de peias e despudorado. O episódio da criação divina da mulher e da sua apresentação ao primeiro homem seria hilariante se não fosse tão tragicamente humano.
Seguem-se 19 capítulos-contos, que apesar de serem estruturalmente compartimentados se encaixam no esqueleto do romance, conferindo-lhe consistência e unidade. Cada conto que terminamos faz-nos iniciar avidamente o seguinte, presos na teia das palavras, magistralmente vivas, que nos fazem vibrar e sofrer, como se cada personagem fosse parte da nossa própria vida. E cada personagem é simultaneamente do seu tempo e do nosso e nós descobrimos, em puro espanto, que somos simultaneamente do nosso tempo e do delas, como se o tempo fosse um rio e a perspectiva apenas mudasse consoante a margem donde o observamos.
É um romance construído no feminino, mas desenganem-se aqueles que pensam que é uma apologia cega da mulher! As personagens são mulheres no feminino real, com a sua força, como Maqueda, a rainha do vento sul, a sua coragem, como Susana, a sua sensibilidade como Judite e também com a sua manha, como a prostituta Dalila e a sua maldade. São mulheres que despertam a nossa compaixão, como a infeliz Adah e mulheres que despertam a nossa revolta, como Sara, porque o sofrimento não pode ser pretexto para a crueldade, sobretudo quando exercida contra quem é indefeso, como a sua escrava Agar.
Também as personagens masculinas são resgatadas do estereótipo original, e descobrimos a cobardia desprezível de Abraão, o desespero do pobre Jacob, que se deu conta de que o paraíso masculino é afinal um inferno, com aquelas 4 mulheres insaciáveis e vorazes. (Eu desconfio, aliás, que depois deste romance, haverá uma procura imensa de mandrágoras!) a fiel integridade de José, a crueldade do hipócrita Makhir que se desculpava do seu atroz egoísmo com a vontade de Deus, a correcção e a sensibilidade amorosa de Booz, a astúcia de Tobias para resgatar a esquizofrénica Sara das garras de Asmodeu.
Tentação da Serpente/O Romance da Bíblia é, inevitavelmente um romance polémico, porque ousa tocar uma temática muito sensível. E é incómodo porque nos mostra que a nossa sociedade não é, na prática, assim tão diferente da misoginia praticada nos tempos bíblicos. É incómodo porque nos faz pensar, porque nos obriga a ver com olhos desvendados.
Aqueles que, à partida, questionam a validade do romance porque recria as velhas histórias da Bíblia, aposto que nunca leram o texto que aceitam como sagrado e se o fizeram, certamente não leram o romance. Se o lessem perceberiam que não há nele qualquer desrespeito pela Bíblia. Há apenas o resgate da velha arte de ensinar que anima o contador de histórias. Há histórias que nos divertem e nos dão lições de vida. Há vidas que nos pregam dolorosas rasteiras e nos fazem questionar a nossa fé e as nossas convicções. As personagens, como Salomão, têm crises de fé e questionam-se, como nós, como pode Deus, sendo Todo-poderoso, permitir o sofrimento de quem não tem qualquer sombra de culpa. Só o fundamentalismo cego tem a pretensão de manter intocável um texto sagrado.
Eu acredito convictamente que em literatura não há intocáveis.
A escrita de Deana Barroqueiro tem a leveza e a aparente facilidade do que é perfeito. Tem a maturidade de quem já nada precisa de provar, tem a beleza de quem pinta com palavras todos os matizes da sensibilidade humana e tem a força interventiva de quem não baixa os braços e faz das palavras as armas de paz para construir uma sociedade mais justa e mais humana.
Eu diria mais feminina… mas acho que é pura provocação.
Eu admirava a escrita de Deana Barroqueiro. Agora que tive o prazer de a conhecer pessoalmente penso que aquela escrita só poderia nascer de uma pessoa assim: admiravelmente bonita e humana.
Maria Isabel Prates
13 junho 2010
Nova apresentação de “O Romance da Bíblia”
Dia 14/06, Segunda-feira - Lisboa
FNAC Colombo 19h00 -
FNAC Colombo 19h00 -
Nova apresentação de “O Romance da Bíblia”, pela Dra. Manuela Gamboa.
Espero por todos os que quiseram ir ao lançamento do CNC e não puderam!
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