Klimt - Serpentes Aquáticas
No mundo diurno, a serpente surge como um fantasma palpável, mas que desliza entre os dedos, da mesma forma que através do tempo e do espaço mensuráveis e das regras do raciocínio para se refugiar no mundo subterrâneo, donde provém e onde a imaginamos, intemporal, permanente e imóvel na sua completude. Veloz como o relâmpago, a serpente visível surge sempre de uma abertura escura, fenda ou racha, para cuspir a morte ou a vida antes de voltar para o invisível.
Ou então abandona esta aparência masculina para se tornar feminina: enrola-se, enlaça, aperta, sufoca, engole, digere e dorme. Esta serpente fêmea é a invisível serpente-princípio que reside nas camadas profundas da consciência e nas camadas profundas da terra. É enigmática, secreta, não se pode prever as suas decisões, repentinas como as suas metamorfoses. Brinca com os sexos como com todos os contrários; é fêmea e macho, gémea em si mesma, como muitos deuses criadores que são sempre, na sua primeira representação, serpentes cósmicas.
A serpente visível só aparece como breve encarnação de uma Grande Serpente Invisível, causal e atemporal, senhora do princípio vital e de todas as forças da natureza. É um velho deus primordial que encontramos no ponto de partida de todas as cosmogeneses. É o que anima e o que mantém. No plano humano, é o duplo símbolo da alma e da líbido.
Dicionário dos Símbolos - Jean Chgevalier e Alain Gheerbrant
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