Romance: Tentação da Serpente


Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento.
Uma história de mulheres, para mulheres, de que os homens também gostam.

"Tentação da Serpente" é uma reedição de "O Romance da Bíblia", publicado em 2010.

26 janeiro 2014

As Praxes - Bullying e humilhação "universitária"

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No meu tempo de estudante universitária, nos anos 60 (já sei que sou um fóssil!), tanto eu como os meus colegas que lutávamos pela liberdade de pensamento e de expressão, por um ensino melhor e pelo conhecimento como meio de ter uma vida com sentido, éramos contra as praxes que eram aceites pelo regime de Salazar como uma forma de alienação dos estudantes - era o circo a substituir o pão (neste caso, o pensamento e o conhecimento). E, na verdade, esse circo infantilóide e humilhante, exercido quase sempre por maus alunos que se eternizavam nas faculdades e faziam dessas práticas o seu modo de vida, era muito pouco insignificante e quase sempre ridicularizado pelos colegas.

Por isso vi com desgosto a juventude voltar a esses "rituais" de palhaçada quase sempre aviltantes para o caloiro, por vezes mesmo perigosas, quase sempre acompanhadas de outros excessos. Práticas que contagiaram os estudantes mais novos das escolas secundárias, a que felizmente os seus professores e directores souberam pôr fim a tempo. O que não aconteceu nas Universidades.

Repugna-me que alguém se arrogue o direito de humilhar os colegas mais novos ou mais fracos em público, e espanta-me que essa forma de bullying (que já tem provocado desistências de alunos dos seus cursos e abandono da Universidade) seja permitida e encarada até com complacência pela nossa sociedade.

A análise de José Pacheco Pereira é detalhada, incisiva e realista. Devia servir para reflexão e, talvez, para uma tomada de posição. Aqui têm o seu artigo:

A abjecção das praxes

É-me pessoalmente repugnante o espectáculo que se pode ver nas imediações das escolas universitárias e um pouco por todo o lado nas cidades que têm população escolar, de cortejos de jovens pastoreados por um ou dois mais velhos, vestidos de padres, ou seja, de “traje académico”, em posturas de submissão, ou fazendo todo o género de humilhações em público, não se sabe muito bem em nome de quê.

Há índios com pinturas de guerra, meninas a arrastarem-se pelo chão, gente vestida de orelhas de burro, prostrações, derrame de líquidos obscuros pela cabeça abaixo, e uma miríade de signos sexuais, e gestos de carácter escatológico ou coprológico, que mostram bem a fixação dos rituais da praxe numa idade erótica que o dr. Freud descreveu muito bem.

Talvez pelas alegrias de ser vexado, o objectivo do coma alcoólico é muito desejado e o mais depressa possível. De um modo geral está quase tudo em adiantado estado de embriaguez, arrastando-se ao fim do dia pelos sítios mais improváveis, bebendo aquelas bebidas como os shots que são o atestado de que não se sabe beber, um álcool forte seja ele qual for, absinto, vodka ou cachaça e um licor ou sumo ultradoce para ajudar a engolir. Os nomes dos shots, do popular “esperma” ao “orgasmo”, passando pelo B-52, “bomba atómica”, "vulcão”, “bomba”, “Singapura”, “broche”, “inferno”, “chupa no grelo”, "Kalashnikov”, “levanta-mortos” ao “vácuo” (muito apropriado), fazem parte da cultura estudantil da Queima e da praxe. Por cima disso tudo, hectolitros de cerveja, a bebida que o nosso diligente ministro da Economia conseguiu retirar da proibição de servir bebidas alcoólicas a menores, um exemplo do que valem as ligações políticas de um gestor no seu sucesso como empreendedor.

A praxe mata, já tem matado, violado e agredido, enquanto todos fecham os olhos, autoridades académicas, autoridades, pais, famílias e outros jovens que aceitam participar na mesma abjecção. Já nem sequer é preciso saber se os jovens que morreram na praia do Meco morreram nalguma patetice da praxe, tanto mais que parece terem andado a seguir uma colher de pau gigante, fazendo várias momices, uma das quais pode ter-lhes custado a vida. Eu escreveria, como já escrevi noutras alturas, o mesmo, houvesse ou não houvesse o caso do Meco. (Aliás, é absurdo e insultuoso para a dignidade de quem morreu o espectáculo de filmes de telemóvel e entrevistas que as televisões têm passado, mas isso é outro rosário, da nossa estupidificação colectiva…)

Tenho contra a praxe todos os preconceitos, chamemos-lhe assim, para não estar a perder tempo, da minha geração. A praxe quando estava na faculdade era vista como uma coisa de Coimbra, um pouco antiquada e parola, de que, felizmente, no Porto e em Lisboa não havia tradição. No Porto, onde estudava, havia um cortejo da Queima das Fitas e a percentagem de estudantes vestidos de padres com capa e batina aumentava por uma semana, mas durante o ano era raro ver tal vestimenta. A situação era variável de escola para escola, mas a participação em actividades ligadas com a praxe era quase nula. Aliás, qualquer ideia de andar a “praxar” os estudantes do primeiro ano era tão exótica como a aparição de um disco voador na Praça dos Leões. Infelizmente muitos anos depois, apareceu uma verdadeira flotilha. Em Lisboa, muito menos, nada. Depois, outro enxame de discos voadores com padres de capa e batina.

Quando se deu a crise em Coimbra em 1969, a contestação à praxe acentuou-se, embora algumas “autoridades” da praxe, como o dux veteranorum, tenham apoiado a luta estudantil. Se em Coimbra a Queima das Fitas foi contestada, porque violava o “luto académico”, no Porto, as tentativas de a manter acabaram em cenas de pancadaria com grelados e fitados até que progressivamente desaparecerem do mapa. Tornava-se então evidente que o nascente conflito sobre a Queima no Porto se tinha tornado politizado entre uma universidade que as autoridades da ditadura cada vez menos controlavam e a tentativa de encontrar, por via da praxe, uma forma de resistência ao movimento associativo e estudantil. As últimas lutas mais importantes no Porto, como a contestação do Festival dos Coros, com as suas prisões em massa, tinham colocado as praxes e a Queima das Fitas do lado do regime e provocaram um longo ocaso das suas manifestações. Até um dia.

Eu participei nessas escaramuças políticas, mas também culturais, e escrevi alguns panfletos, incluindo um, Queimar a Queima, que circulou pelas três universidades em várias versões e edições. Mas, na luta contra a praxe, tornava-se cada vez mais evidente já nessa altura que estava em causa não apenas a conjuntura desses anos de brasa estudantis, mas também uma recusa da visão lúdica e irresponsável da juventude, e que, se se tratava de um rito de passagem, era para a disciplina da ordem e da apatia política. Rallies, touradas, bailes de gala, beija-mão ao bispo na bênção das pastas – tudo acompanhado pelas autoridades académicas muito contentes com a “irreverência” dos “seus” jovens, quando ela se manifestava naquelas formas – eram muito mais uma introdução à disciplina do que o despertar de qualquer consciência crítica. No fundo, o que se pretendia era que houvesse uma “explosão” de inanidades, a que depois se seguiria a disciplina da vida adulta, casamento, emprego, família e filhos, ordem social e hierarquia.

Ao institucionalizar a obediência aos mais absurdos comandos, a humilhação dos caloiros perante os veteranos, a promessa era a do exercício futuro do mesmo poder de vexame, mostrando como o único conteúdo da praxe é o da ordem e do respeito pela ordem, assente na hierarquia do ano do curso. Mas quem respeita uma hierarquia ao ponto da abjecção está a fazer o tirocínio para respeitar todas as hierarquias. Se fores obediente e lamberes o chão, podes vir a mandar, quando for a tua vez, e, nessa altura, podes escolher um chão ainda mais sujo, do alto da tua colher de pau. És humilhado, mas depois vingas-te.

Nos dias de hoje continua para mim evidente o papel deste tipo de rituais na consolidação de uma vida essencialmente amorfa e conservadora, desprovida de solidariedade e intervenção social e política, subordinada a todos egoísmos e disponível para todas as manipulações. Aliás, a evidente ausência do movimento associativo estudantil da conflitualidade dos dias de hoje e a fácil proliferação das “jotas” nessas estruturas, tanto mais eficaz quanto diminui a participação dos estudantes em qualquer actividade que não seja lúdica (numa recente eleição na Universidade do Porto para um universo de 32000 estudantes participaram 2000, em contraste com uma muito maior mobilização dos professores num processo eleitoral do mesmo tipo), acompanham a generalização da submissão à praxe. De facto, a praxe mata, às vezes o corpo, mas sempre a cabeça.


Historiador

25 janeiro 2014

Galiza avisa que espanholas virão abortar a Portugal se reforma da lei for aprovada


Presidente da Xunta, Alberto Núñez Feijóo, considera que legislação espanhola deve adequar-se à realidade europeia.
 O Presidente do governo regional da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, espera que os legisladores espanhóis sejam capazes de “alcançar o máximo consenso possível” e adequar a reforma da lei do aborto proposta pelo executivo conservador de Mariano Rajoy à realidade europeia, para evitar que as mulheres espanholas cruzem a fronteira para interromper a gravidez em Portugal.

O presidente da Xunta é um dos muitos políticos do Partido Popular a criticar o polémico anteprojecto para a reforma da lei do aborto proposta pelo ministro da Justiça, Alberto Ruíz-Gallardón, e aprovado em Conselho de Ministros. A revisão proposta restringe o direito à interrupção voluntária da gravidez, que agora é livre até às 14 semanas de gestação, aos casos de violação ou quando a saúde da mãe estiver em risco (comprovado por dois atestados médicos).

“Temos que estar conscientes de que vivemos ao lado de Portugal e não gostaria que houvesse pessoas em Espanha a cruzar a fronteira para realizar actos que no meu país não se admitem”, notou o governante, numa entrevista à Rádio Nacional Espanhola (RNE). Feijóo não respondeu directamente sobre a possibilidade de as mulheres galegas passarem a recorrer aos serviços de saúde portugueses para a prática de abortos no caso de a lei ser aprovada – mas sublinhou que essa situação acontecia antes da introdução da chamada “lei de prazos”. “Não se pode ter a certeza que não voltaria a acontecer se a legislação se tornasse mais restritiva”, disse.

Para o dirigente galego, a Espanha “não tem que assumir a legislação do aborto portuguesa”, ou a da França, o outro país vizinho que também poderá ser procurado pelas espanholas que desejem interromper a gravidez. “Mas como membro da União Europeia, a legislação espanhola deve adequar-se ao contexto europeu em que estamos”, defendeu.

Alberto Núñez Feijóo desvalorizou as divergências no seio do Partido Popular por causa da proposta de reforma – que mereceu a crítica quase consensual dos partidos de oposição –, assegurando que o partido concedeu aos seus membros “a liberdade que merecem as pessoas em assuntos difíceis” e garantindo que “o Governo pretende alcançar o maior consenso possível”.

O presidente da Xunta lembrou que o anteprojecto ainda se encontra numa fase de consulta e discussão no Congresso e que por isso “apesar de se manterem os princípios gerais do texto, as questões concretas ainda podem ser ajustadas”. Nesse sentido, exortou os deputados a “legislar para o conjunto dos espanhóis”, para que a reforma tenha “uma vocação de permanência”.

Referendar o horror

 FERNANDA CÂNCIOpor FERNANDA CÂNCIO17 janeiro
Percebo o horror com que alguns terão visto em maio a aprovação do projeto de lei sobre coadoção em casais do mesmo sexo. Terá sido um choque darem-se conta da existência, entre nós, de casais do mesmo sexo com crianças. É compreensível: são crianças iguais a todas as outras, não andam por aí com uma cruz na testa ou na lapela. Não há notícias de tumultos nas escolas que frequentam, nos prédios e nas ruas onde vivem com a família. Aliás, até há muito pouco tempo, não havia notícias: podia acreditar--se que estas crianças não existem.

Quem se habituou a pensar assim, quem gosta de pensar assim, prefere agarrar-se a essa ideia. É por esse motivo que de cada vez que se fala de coadoção em casais do mesmo sexo - a possibilidade de um dos cônjuges solicitar a um tribunal que lhe permita adotar o filho, biológico ou adotivo, do outro cônjuge, filho esse que vive com os dois, que é criado pelos dois e chama mãe ou pai aos dois (e que não pode ter mais nenhuma mãe ou pai reconhecido pela lei, porque se tiver a coadoção é interdita) - há quem fale de adoção por casais do mesmo sexo. Conduzir o debate para a possibilidade de adotar, em conjunto, uma criança disponível para tal e até aí sem laços com o casal permite dizer coisas como "as crianças devem ter direito a um pai e a uma mãe"; "a adoção não é um direito dos adultos, é um direito das crianças"; "não sabemos o efeito numa criança de ser criada por dois pais e duas mães, por isso é melhor não arriscar" - etc. Sobretudo, permite fingir que se está a pôr acima de tudo a preocupação com as crianças, quando a intenção é a contrária.

Negar a determinadas crianças o direito de gozar da proteção que lhes confere o reconhecimento legal de dois progenitores em vez de um: é isso que quer quem recusa a coadoção em casais de pessoas do mesmo sexo. Tem um tal horror aos homossexuais que não hesita em sacrificar o bem-estar muito concreto das crianças muito concretas que com eles vivem. Como bem sabe que isso é vergonhoso, finge estar a tentar impedir que "se entreguem crianças a homossexuais" e pede um referendo "para a sociedade decidir".

Entendamo-nos: as crianças em causa na lei da coadoção nunca vão ter "um pai e uma mãe". Têm duas mães ou dois pais e tê-los-ão sempre - quer a lei lhos reconheça ou não. Não está em causa decidir com quem essas crianças vivem, quem vai educá-las e amá-las e quem elas vão amar. Essa decisão não nos pertence. A nossa opção é entre aceitar e proteger essas famílias ou rejeitá--las e persegui-las. Entre dizer a essas crianças "a tua família é tão boa como as outras" ou "a tua família não presta". Referende-se então isso: "Tem tanto horror aos homossexuais que deseja que a sociedade portuguesa decida em referendo discriminar os filhos deles ou acha que a lei portuguesa deve deixar, o mais depressa possível, de fingir que essas crianças não existem e o Parlamento lhes deve garantir os direitos que lhes faltam?"

15 janeiro 2014

«Explosão» de Vítor Pereira em conferência de imprensa faz furor online | Desporto : Futebol : Internacional | Diário Digital

«Explosão» de Vítor Pereira em conferência de imprensa faz furor online

As ditaduras muçulmanas e a censura:

Depois das já célebres conferências de imprensa de Toni quando orientava os iranianos do Tractor, outro treinador português faz furor online. Vítor Pereira, ex-técnico do FC Porto, irritou-se com o responsável de comunicação do Al Ahly durante a conferência de rescaldo após a derrota frente ao Al Ittifaq, na Arábia Saudita.

Apesar de o incidente ter já algumas semanas, só agora ganhou notoriedade nas redes sociais e no YouTube.
O antigo técnico dos «dragões» irritou-se quando, após falar de um jogador ser «mau profissional», o assessor interrompeu-o e pediu-lhe que se cingisse a falar dos «aspectos técnicos» do jogo.
Vítor Pereira não disfarçou a indignação e confrontou o assessor, perante os incrédulos jornalistas.
«Nunca ninguém me disse o que dizer», disparou o treinador.