Manifestações e protestos deixam primeiro-ministro indiano na berlinda e
fazem crescer coro das críticas contra o Governo nacionalista hindu.
Os indianos voltaram à rua, para mais uma vez manifestar repúdio pela violência contra as mulheres e as minorias, em choque com um novo e arrepiante caso de violação: uma religiosa de 71 anos, que foi agredida e violada por um assaltante, alegadamente como “castigo” por ter tentado impedir um roubo em curso numa escola católica de Ranaghat, no estado de Bengala Ocidental, a cerca de 70 quilómetros da cidade de Calcutá.
Na noite de sexta-feira, um grupo de dez ou doze homens invadiu a escola para um roubo que, segundo disse à AFP o superintendente da polícia, Arnab Ghosh, terá sido “minuciosamente planeado”. Os homens, cujas idades variam entre os 20 e 30 anos, escalaram o muro da escola, imobilizaram o segurança das instalações, desligaram as linhas telefónicas e começaram a recolher o seu pecúlio – dinheiro, computadores portáteis, telemóveis e outros artigos.
O barulho chegou até ao convento contíguo à escola e levou as freiras aí residentes a tentar intervir para travar o assalto. Os homens ataram algumas das irmãs, e depois de identificarem a madre superiora da congregação, agrediram-na e violaram-na como castigo por ter tentado accionar um alarme. Além do roubo, das agressões e da violação, os assaltantes ainda vandalizaram a capela, destruindo livros e imagens religiosas.
Imagens das câmaras de vigilância da escola permitiram identificar quatro dos seis agressores. Além destes, a polícia, que ofereceu uma recompensa de 1500 euros a quem tivesse informação relevante sobre o caso, ainda deteve outros cinco suspeitos para interrogatório. Mas os indivíduos acabaram por ser libertados, enfurecendo a população.
Os alunos da escola, familiares e amigos, encenaram um primeiro protesto assim que o episódio veio a público: em fúria, cortaram estradas e interromperam a circulação ferroviária. Na segunda-feira à noite, os protestos tornaram-se violentos, com os manifestantes a envolverem-se em confrontos com a polícia depois de uma vigília de solidariedade à luz das velas, que reuniu centenas de cristãos que rezaram pela recuperação da religiosa
O caso veio “ilustrar” da pior maneira possível
duas tendências que aparentemente estão a crescer na Índia: a agressão
sexual e outros crimes contra as mulheres e os ataques direccionados à
comunidade católica, uma minoria religiosa do país e que se sente
desprotegida perante um recrudescimento da violência inter-religiosa.
A reacção tardia de Modi aos acontecimentos veio alimentar as desconfianças e críticas daqueles que contestam a posição relativamente laxista e permissiva do seu Governo (nacionalista hindu) perante o aumento da violência religiosa e a percepção de um desrespeito generalizado da lei que garante a liberdade de culto. Cerca de um quinto da população (1,3 mil milhões de pessoas) indiana professa fés diferentes do hinduísmo.
Recordando que a Índia é oficialmente um regime laico, os detractores do primeiro-ministro alegam que uma inusitada campanha promovida por grupos conservadores para a conversão em massa de muçulmanos e cristãos ao hinduísmo cria uma atmosfera de tensão inter-religiosa que é “propícia a ataques” e levanta legítimas dúvidas sobre a natureza secular da intervenção do Estado.
17/03/2015 Público
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