Romance: Tentação da Serpente


Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento.
Uma história de mulheres, para mulheres, de que os homens também gostam.

"Tentação da Serpente" é uma reedição de "O Romance da Bíblia", publicado em 2010.

09 julho 2012

Execução pública de uma mulher cerca de Cabul


O Regresso à barbárie islâmica fundamentalista



Uma mulher, suspeita de adultério, mas sem direito a julgamento ou sequer a ser ouvida,  é executada publicamente a tiro num povoado próximo de Cabul,  mostrando que pouco mudou em relação à condição feminina no Afeganistão, após dez anos de presença internacional.

Num pequeno povoado da província de Parwan, dezenas de homens, sentados no chão ou nos telhados das casas, observam a mulher coberta por um véu. A acusada, sentada no chão empoeirado, ouve  a sentença de morte sem esboçar um gesto.

"Esta mulher, filha de Sar Gul, irmã de Mustafá e esposa de Juma Jan, fugiu com Zemarai. Não a viram no povoado durante mais ou menos um mês", enuncia um homem, aparentemente um juiz, com barba longa e negra. Em seguida cita versículos do Corão que condenam o adultério.
"Mas, por sorte, os mujahedines prenderam-na. Não podemos perdoar-lhe. Juma Jan, seu marido, tem o direito de a matar".

Um homem vestido de branco recebe uma espingarda e vai postar por trás da acusada. Ao grito de "Alá akbar" (Deus é grande), o homem dispara duas vezes na direção da mulher, errando o alvo. A terceira bala atinge a cabeça da vítima, que cai por terra, o que não impede o marido de disparar mais dez vezes (por ódio ou vingança?).

Entre os presentes, apenas homens, uns aplaudem, alguns gravam a cena com seus telemóveis.

Segundo a versão oficial, Najiba, de 22 anos, foi detida pelos talibãs por ter mantido "relações" (extra-conjugais), forçadas por violação ou consentidas, com um comandante talibã rival do distrito de Shiwari, também em Parwan. A mulher foi torturada e condenada à morte. Porém,  este acto bárbaro parece ser afinal um ajuste de contas entre duas facções rivais. Ela foi apenas o bode espiatório, por ser indefesa.

O ministério do Interior afegão condenou com firmeza o que chamou de "acto anti-islâmico e desumano cometido por assassinos profissionais".

Todos os meses são registrados crimes odiosos contra mulheres no Afeganistão, principalmente nas zonas rurais, que ainda se regem pelas tradições e a sharia.

Segundo a organização não-governamental Oxfam, 87% das afegãs afirmam ter sido submetidas a violências físicas, sexuais ou psicológicas, ou a um casamento forçado.

Najiba, de 22 anos, foi morta como um cão no terreno pedregoso da vila, porque a valia da mulher para o fanatismo islâmico é inferior à de qualquer animal, podendo ser morta do modo que nos revoltaria e causaria movimentos de solidariedade por todo o lado, se o víssemos fazer na Europa a uma cadela.
Contudo, estas mortes, violações e casamentos forçados não parecem incomodar a opinião pública muçulmana.

Alguma vez chegará a Primavera Árabe às mulheres dos países islâmicos?
Duvido!

(Este artigo tem por base uma notícia do Tribuna Hoje)

05 julho 2012

Serpente, alma e líbido



Klimt - Serpentes Aquáticas
No mundo diurno, a serpente surge como um fantasma palpável, mas que desliza entre os dedos, da mesma forma que através do tempo e do espaço mensuráveis e das regras do raciocínio para se refugiar no mundo subterrâneo, donde provém e onde a imaginamos, intemporal, permanente e imóvel na sua completude.

Veloz como o relâmpago, a serpente visível surge sempre de uma abertura escura, fenda ou racha, para cuspir a morte ou a vida antes de voltar para o invisível.
Ou então abandona esta aparência masculina para se tornar feminina: enrola-se, enlaça, aperta, sufoca, engole, digere e dorme. Esta serpente fêmea é a invisível serpente-princípio que reside nas camadas profundas da consciência e nas camadas profundas da terra. É enigmática, secreta, não se pode prever as suas decisões, repentinas como as suas metamorfoses. Brinca com os sexos como com todos os contrários; é fêmea e macho, gémea em si mesma, como muitos deuses criadores que são sempre, na sua primeira representação, serpentes cósmicas.

A serpente visível só aparece como breve encarnação de uma Grande Serpente Invisível, causal e atemporal, senhora do princípio vital e de todas as forças da natureza. É um velho deus primordial que encontramos no ponto de partida de todas as cosmogeneses. É o que anima e o que mantém. No plano humano, é o duplo símbolo da alma e da líbido.

Dicionário dos Símbolos - Jean Chgevalier e Alain Gheerbrant

Reedição


Tentação da Serpente é uma reedição de O Romance da Bíblia, publicado em 2010, onde pretendi fazer, partindo dos estereótipos do Antigo Testamento, uma saga histórica, mas também poética, sensual, irónica e dramática das mulheres da Antiguidade, que viviam confinadas nas tendas de pastores nómadas ou nos haréns e serralhos dos palácios dos faraós do Egipto ou dos reis da Pérsia e Mesopotâmia, cujos ambientes são recriados com o maior rigor a partir de uma cuidada pesquisa em documentos da época e em obras de História das civilizações pré-clássicas.

Devido aos problemas causados pela distribuidora Sodilivros, que são do conhecimento público, os exemplares de "O Romance da Bíblia" foram retirados do mercado e substituídos por esta nova edição - com um título que retrata melhor o tema e a intenção da obra do que o anterior - que foi entregue a outra distribuidora para poder chegar aos meus leitores de todo o país.

Nota: Tentação da Serpente apenas difere de O Romance da Bíblia no título e capa.