Romance: Tentação da Serpente


Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento.
Uma história de mulheres, para mulheres, de que os homens também gostam.

"Tentação da Serpente" é uma reedição de "O Romance da Bíblia", publicado em 2010.

29 dezembro 2015

A arte da amamentação perdeu-se

by Ponto Final
1.JACK NEWMAN2
Jack Newman, o médico canadiano considerado consensualmente como um dos principais gurus mundiais da amamentação, esteve em Macau para apresentar as vantagens do aleitamento materno. Em entrevista ao PONTO FINAL, o clínico acusa farmacêuticas e fabricantes de leite em pó de mentirem em relação às vantagens das fórmulas lácteas e reiterou a importância do acto de amamentar na construção de laços afectivos mais fortes entre a mãe e o bebé. Newman pronuncia-se ainda sobre a importância da formulação de politicas sociais que possam promover a amamentação e caracterizou, com uma única palavra, a actual Lei das Relações de Trabalho no que toca ao período de licença de maternidade. “É terrível”, diz o especialista.
Marco Carvalho
Como é que algo tão artificial como o leite em pó se tornou um sucesso tão grande um pouco por todo o mundo? Na República Popular da China poucas eram as mães que amamentavam. Como é que isto aconteceu?
Jack Newman - Aconteceu exactamente pelas mesmas razões que aconteceu no resto do mundo. A principal razão pode ser atribuída a médicos que, basicamente, acreditavam que em termos científicos alimentar um bebé com leite em pó era melhor do que amamentar. Em parte, estes médicos acreditavam que as recomendações que emitiam eram verdadeiras porque desconheciam por inteiro o processo. A grande maioria dos médicos continua a desconhecer, de resto. Por outro lado, a publicidade ao leite em pó está em todo o lado. As empresas que fabricam o leite e as fórmulas infantis investem muito em anúncios e em publicidade, recorrendo por vezes a mentiras. Esta publicidade afecta o julgamento das mães de uma forma muito importante. A arte da amamentação perdeu-se. Eu diria que a amamentação é uma opção natural que infelizmente acabou por ser vítima de uma série de mal-entendidos.
Começamos a assistir, ainda assim, a uma espécie de regresso às origens. Há muitas mulheres que fazem questão de amamentar. Porque é que assistimos a esta reabilitação da amamentação? Ou o processo integra uma tendência mais ampla, de valorização dos laços afectivos entre a mãe e o bebé? Em países como a Suécia e a Dinamarca, por exemplo, há cada vez mais mulheres que não estão dispostas a sacrificar a família em prol do sucesso profissional …
J.N. - Há, de facto, uma maior consciencialização no que diz respeito à amamentação. A meu ver, há muitas razões que explicam esta tendência e uma delas prende-se com o facto das mães compreenderem que o leito em pó e as fórmulas infantis não são assim tão maravilhosas como foram levadas a acreditar. Em muitos casos, sentiram que a ligação que tinham ao seu bebé não era tão forte como desejado. Por outro lado, durante os últimos vinte anos foi dada a conhecer muita informação relativa aos riscos inerentes à alimentação com leite em pó e ao modo como estes riscos poderiam ter sido evitados através da amamentação. A partir do momento em que esta informação se tornou pública, muitas mães terão percebido que a amamentação é, sem dúvida a melhor, opção. A amamentação é garantia de uma relação muito especial entre elas e os bebés a que deram vida.
Ainda assim, são muitos os equívocos associados à amamentação …
J.N. - Seguramente. Há muitos equívocos que têm origem na tradição e nos hábitos culturais: se estás grávida, não podes comer isto e não podes comer aquilo. Estas ideias – que são quase dogmas – são pura e simplesmente mentira. A maior parte das mães podem comer o que quer que seja, sem prejuízo para o bebé. Por outro lado, há maus conselhos a serem veiculados por profissionais do sector da saúde, e em particular por médicos, que dizem que os bebés só devem mamar uns tantos minutos em cada seio, de tantas em tantas horas, que os bebés não estão a retirar os nutrientes de que necessitam dos seios da mãe. É um chorrilho de disparates repetido à exaustão. Uma boa parte das mães ficam confusas com informação que o mais das vezes nem está correcta, nem é relevante.
A indústria farmacêutica e as farmacêuticas são responsáveis por um dos lobbies mais fortes do planeta. Este lobby também se faz sentir nesta área da nutrição infantil?
J.N. - Sim. E faz-se sentir de forma notória. Como lhe dizia, há publicidade em todo o lado. Não tive oportunidade de ver anúncios a marcas de leite em pó em Macau, mas em Hong Kong estão em todo o lado. Todas as farmácias têm cartazes em que anunciam que vendem esta e esta marca de leite em pó. São cartazes que exibem fotos de bebés a mamar ou bebés a serem embalados pelas mães e que garantem que os efeitos do leite em pó são maravilhosos. Vi anúncios a marcas de fórmulas infantis nas portas dos táxis, na televisão e em todo o lado. A publicidade funciona. Há equívocos que são fomentados pelas informações erradas facultadas por estes anúncios: dizem que o leite em pó é maravilhoso e que é tão bom como o leite materno. É a mensagem que fazem passar. Há falta de conhecimento por parte de médicos, que continuam a fazer chegar às mães informações muito erradas. E não se trata apenas de médicos. Há muitos profissionais de saúde que se deixam levar pela cantiga. Normalmente, e ainda assim, é aos médicos que cabe a última palavra, porque ainda continuam a ter o poder que é normalmente assacado aos deuses. No meu entender, as mães querem amamentar, mas o desejo de amamentar é muitas vezes minado pelo meio que as rodeia, incluindo as próprias avós que muitas vezes dizem: “Tu foste alimentada com leite em pó e és saudável”. Não é mentira, porque os seres humanos são surpreendentemente adaptáveis. Podemos comer quase tudo e ainda assim continuarmos bem.
E no que diz respeito ao paradigma estético? Há mulheres que colocam de lado a possibilidade de amamentar porque acreditam que ao fazê-lo estão a prejudicar o próprio corpo. Há uma componente de egoísmo neste tipo de decisão?
J.N. - Não. É sobretudo um equívoco. O que faz com que os seios fiquem descaídos é, temo, por um lado a idade e por outro a própria gravidez. Não é propriamente o acto de amamentar. De facto, a amamentação, em muitos casos, preserva a forma dos peitos.
Dizia na sua intervenção que um dos problemas se prende com o facto de muitas mães não saberem amamentar correctamente. Por vezes há problemas biológicos que tornam o processo difícil, como a anguiloglossia (língua presa). Há arte no acto de amamentar? Ou é algo que surge naturalmente?
J.N. - Se deixássemos uma mãe sozinha desde o momento em que engravidou até ao momento em que o bebé nasce, virtualmente todas as mães seriam bem sucedidas no acto de amamentar. Não precisaria de saber muito sobre amamentação. No passado, uma jovem mãe dependia das mulheres que a rodeavam: a mãe, as irmãs e as amigas e era a elas que recorria se se deparasse com dificuldades. Na grande maioria dos casos, ficariam bem. Não é aí que falhamos. É noutros aspectos. Hoje em dia há um número enorme de bebés que nascem através de métodos não naturais. Por vezes é necessário salvar tanto a mãe como o bebé e a intervenção durante o parto é inevitável, mas a maior parte das vezes fazemos cesarianas sem que sejam necessárias, damos às mães injecções intra-venosas e analgésicos de forma completamente supérflua. Como fazemos tudo isto, começamos a interferir com a forma como funciona o processo de amamentação.
Na maior parte dos casos, se um bebé nascer prematuro, será alimentada desde o início com leite artificial. Depois de ser alimentado com fórmula infantil, poucos bebés aceitam com naturalidade o leite materno. Nestes casos, é impossível reverter o processo?
J.N. - Não, não. É possível amamentar um bebé com leite materno depois de ele ter recusado o peito da mãe. Na clínica que lidero no Canadá este é um processo que conduzo com regularidade, mas não é um dado adquirido que todos os bebés prematuros tenham que ser alimentados com leite em pó. Isso é mais um mito. Muitos deles são suficientemente maduros em termos biológicos para serem amamentados de forma natural. Bebés que nascem após as 34 ou 35 semanas de gestação conseguem mamar. Não precisam de leite em pó para nada. Os prematuros extremos, que nascem com peso reduzido, podem precisar do que chamamos de “fortificantes”, componentes que são acrescentados ao leite materno, mas nem isto é uma razão para intervir e para os impedir de mamar.
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Depois há o outro lado do espectro da amamentação, chamemos-lhe assim: o das mães que amamentam até que os filhos já tenham quatro ou cinco anos de idade. Há uma idade razoável para deixar de amamentar? Ou esta questão não se coloca?
J.N. - Se a mãe ainda necessitar e se a mãe estiver disposta a tal, não vejo qualquer problema com isso. A maior parte das crianças deixam de mamar por volta dos três anos e meio, quatro anos. Algumas são perseverantes e podem mamar até aos sete anos. Mas é algo perfeitamente normal. Não há nada de errado com isso. Ajuda a construir uma relação próxima e saudável entre a mãe e a criança.
Essa é uma das questões – a ligação entre o bebé e a mãe – que o levam a defender de forma tão arreigada os benefícios da amamentação, mas não é de todo a única vantagem. Há muitos componentes naturais de grande importância para o desenvolvimento do bebé que apenas podem ser encontrados no leite materno …
J.N. - Exactamente. Nós nem sempre sabemos ao certo como é que estes componentes são úteis ou de que forma ajudam a criança a desenvolver-se. Estes são questões que ainda têm de ser devidamente estudadas. Em alguns casos, parece-me mesmo que não será fácil provar o efeito de algumas destas substâncias. Penso, no entanto, que enquanto existirem diferenças tão grandes entre o leite materno e o leite em pó, devemos ter cuidado ao receitar as fórmulas lácteas de forma rotineira.
Um dos exemplos que mencionou durante a sua intervenção dava conta do caso de uma mãe que se sentia culpada por se ver obrigada a dar leite em pó ao seu filho, depois do pediatra que a acompanhava ter dito que o seu leite estava a deixar a criança adoentada. Esta ideia de culpa é algo frequente da parte de uma mãe que não pode amamentar devido a uma qualquer razão natural?
J.N. - Nem por isso. Quase todas as situações em que uma mãe não pode amamentar poderiam ter sido evitadas, pelo menos a título parcial. São muito poucas, as situações em que uma mãe não pode ou não deve amamentar. Entre estas está a proibição da amamentação devido ao recurso a certos medicamento por parte da mãe, os casos em que a mãe se submeteu a cirurgia com o objectivo de reduzir o tamanho dos seios e por isso não produz leite em quantidade suficiente ou os casos em que a mãe não produz leite em quantidade suficiente por outras razões. Ainda assim, não é de todo impossível o recurso à amamentação. Ainda podemos ajudar aquela mãe a amamentar, mesmo que o bebé não possa ser alimentado em exclusivo com leite materno.
Em que tipo de situações a amamentação representa um risco para a mãe? Elencou algumas que estão sobretudo relacionadas com o bebé. Em que tipo de situações uma mãe deve evitar amamentar? Há alguma complicação médica que faça com que a amamentação não seja de todo aconselhável?
J.N. - Muito poucas. Neste momento não lhe consigo elencar uma única. No caso das mães que têm de se submeter a quimioterapia, alguns dos fármacos utilizados são provavelmente suficientemente tóxicos para prejudicar a criança. Mesmo que se infiltrem no leite em pequenas quantidades, o mais sensato da parte da mãe passa, talvez, por interromper o processo de amamentação.
No entanto, há substâncias que as mães devem evitar se querem que os bebés cresçam sem complicações. É do senso comum que o álcool e o tabaco se reflectem no leite produzido pela mãe….
J.N. - Permita-me que coloque a questão desta forma: um bebé de uma mãe que fuma e que amamenta é um bebé mais saudável que o bebé de uma mãe que não fuma, mas também não amamenta.
A questão da amamentação corresponde sobretudo a uma escolha pessoal, mas há também um aspecto social. Muitas das mulheres que optam por ter filhos são mulheres independentes, com uma carreira própria. Em lugares como Macau não é muito fácil encontrar um equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional. Nem sempre é fácil, por exemplo, encontrar um lugar fora de casa onde se possa amamentar. Esta questão pode ser problemática?
J.N. - Não devia ser um problema. No meu entender, uma mãe deve ser capaz de amamentar em qualquer lado e a qualquer hora. Não conheço ao certo os termos da lei em Macau, mas no Canadá pode amamentar em qualquer lado onde é autorizada, por lei, a sua presença. Se pode frequentar um determinado espaço, então pode amamentar. Aliás, não é sequer permitido dizer que ela não pode amamentar. Se não têm uma lei com esta amplitude em Macau, deviam mudar a lei existente para que tal seja possível.
Não é o caso com os novos complexos hoteleiros, mas a maior parte dos restaurantes e dos serviços privados não têm um espaço que uma mãe possa utilizar para amamentar ou para mudar a fralda a um bebé. Mais grave ainda: este tipo de estruturas nos serviços públicos não são de todo habituais …
J.N. - Digo-lhe o mesmo que lhe disse. No que toca à fralda, pode perfeitamente mudá-la numa casa de banho. Quanto a amamentar, deve fazê-lo à mesa.
E não o fazem porquê? Ainda há uma forte pressão social que faz com que uma mãe tenha vergonha de se expor?
J.N. - Ainda há. Parece-me que sim e devíamos todos agir para mudar isso. As mães têm de se convencer de que ao amamentar estão a fazer o melhor pelos seus filhos e não devem ter vergonha nenhuma da opção que fizeram.
Em Macau há uma outra questão que diz respeito à duração do período da licença de maternidade …
J.N. - É terrível.
A lei prevê apenas 56 dias para a mãe. O pai quase não dispõe de tempo para estar com o filho. Uma licença de maternidade mais vasta pode fortalecer a relação entre a mãe e o bebé?
J.N. - Sim, é uma questão óbvia. Não sei se estava cá, mas referi que no Canadá a licença de maternidade é de 52 semanas. Faz uma diferença enorme no desenvolvimento da criança e no tipo de acompanhamento que a mãe dedica ao bebé. Muitas optam por amamentar porque sabem que terão tempo para isso.
Que tipo de conselho daria às mães de Macau que se encontrem divididas entre a amamentação e o recurso às fórmulas infantis. No Ocidente, para uma boa parte das mães a questão de abrir mão da amamentação nem sequer se coloca. Na China, as circunstâncias são outras e há ainda muitas mães indecisas. Muitas não sabem se devem amamentar ou se devem recorrer a leite em pó…
J.N. - A minha sugestão seria esta: se começaram a amamentar e obtiveram a melhor ajuda e o melhor acompanhamento de forma a que o bebé obtenha na mãe o alimento de que necessita e ainda assim decidirem que a amamentação não lhes enche as medidas, podem deixar de amamentar a qualquer altura. É muito fácil deixar de amamentar. Se começarem a alimentar a criança à base do biberão e depois mudarem de ideias, é muito difícil ter sucesso a amamentar. Quase todos os dias recebo e-mails de mães que mudaram de ideias. O problema é que não é tão fácil como se pensa passar do leite em pó para o leite materno. As mães devem dar a si próprias e aos seus filhos as melhores oportunidades e devem começar com uma aposta na amamentação. Talvez até se venham a surpreender com a possibilidade de virem a gostar tanto de amamentar. São muitas as mães deram a mama a bebés durante anos a fio e sentem-se felizes por o terem feito. O que eu diria a uma mãe indecisa de Macau? Se não sabe ao certo como é, talvez venha a adorar a ideia de amamentar. Porque é que não dá uma oportunidade à amamentação? Como é que sabe que não quer amamentar se nunca o fez antes?
Ponto Final | 29 de Dezembro de 2015 às 10:46 am | Etiquetas:Manchete | Categorias: Uncategorized | URL: http://wp.me/pu3KH-chD

10 agosto 2015

“Caçadores” de bruxas executam, à paulada, cinco mulheres na Índia

Na Índia a superstição reina sobre a lei. O governo tem tentado desde 2010 banir acusações de feitiçaria, assim como práticas relacionadas com o oculto, mas sem grande sucesso
HARISH TYAGI

Vários habitantes de uma vila no estado de Jharkand executaram cinco mulheres acusadas de feitiçaria. As autoridades indianas detiveram cerca de 24 “caçadores”

O último julgamento por feitiçaria no mundo ocidental foi realizado em 1944 em Inglaterra, mas noutras partes do mundo as acusações por feitiçaria são ainda lugar-comum. O caso mais recente ocorreu sexta-feira na Índia, numa vila junto à cidade de Ranchi, no estado de Jharkand, onde cinco mulheres foram arrastadas das suas cabanas e mortas à paulada.

“Um grupo de habitantes arrastou as mulheres e bateu-lhes até à morte com paus, acusando-as de praticar feitiçaria”, disse Arun Kumar, agente da polícia de Ranchi, depois de as autoridades locais terem capturado 24 homens que terão estado envolvidos nessas execuções.

O grupo terá usado armas afiadas e paus para agredir violentamente as mulheres, de idades entre os 45 e 50 anos. “Acusaram-nas de causarem doenças na vila e trazer azar à vila”, declarou o inspector da polícia Bandana Bakhla.

Um problema com raízes antigas

A Índia é um país onde o oculto e a superstição ainda fazem parte do quotidiano das populações rurais. Em julho, uma multidão no estado de Assam decapitou uma mulher por feitiçaria. No mesmo mês, um casal e os seus quatros filhos foram queimados vivos em Odisha, pelos mesmos motivos.
O governo da Índia tem tentado pôr fim a todo o tipo de práticas e rituais supersticiosos ou relacionados com o oculto, assim como julgamentos de feitiçaria, mas a população mais rural tem resistido à mudança.
Em 2013, o maior defensor e proponente de uma lei “antimagia negra”, Narendra Dabholkar, foi morto à porta de casa por ativistas que defendiam que a lei que procurava acabar com esses rituais ia contra a religião hindu.

A morte de Dabholkar levou o estado de Maharashtra a adoptar a medida em agosto de 2013, mas autoridades têm tido dificuldade em exercer a lei, devido ao enraizamento das práticas na cultura de muitos sectores da sociedade indiana.


Entre 2010 e 2012, o arquivo criminal da Índia registou cerca de 2100 casos em que pessoas foram mortas por alegada feitiçaria.

07 agosto 2015

Estado Islâmico tem lista com preços de meninas-escravas

A denúncia parte de uma responsável das Nações Unidas, Zainab Bangura, que afirmou ter visto uma cópia da listagem.
Estado Islâmico tem lista com preços de meninas-escravas
O auto-proclamado Estado Islâmico tem uma lista de meninas-escravas com os respectivos preços que faz circular entre os combatentes do grupo na Síria e no Iraque. Em Novembro do ano passado, a lista surgiu na Internet, mas, na altura, não foi possível confirmar a sua veracidade. Agora, Zainab Bangura diz que essa lista é real, afirmando que a viu durante uma viagem ao Iraque, em Abril.

Em declarações à Bloomberg, Bangura referiu que as meninas são vendidas "como barris de gasolina". "As meninas são levadas e trancadas em quartos ou casas, despidas e lavadas. Depois, são apresentadas aos clientes que decidem quanto elas valem", sublinhou, acrescentando que "os elementos do grupo chegam a fazer mercados para vender como escravas as meninas raptadas durante as ofensivas".

A responsável foi mais longe e explicou que as crianças com idade até aos nove anos são vendidas por cerca de 165 dólares, enquanto as adolescentes e as mulheres vão sendo vendidas por preços mais baixos. Na prática, quanto mais velha é a mulher, mais baixo é o seu preço.

Zainab Bangura visitou o Iraque e a Síria em Abril e desde então tem estado a trabalhar num plano de acção para abordar a horrível violência sexual levada a cabo por aquele grupo extremista. "Esta é uma guerra que está a ser travada no corpo das mulheres", denunciou a enviada da ONU para a violência sexual.

O rapto de meninas tornou-se uma parte estratégica do grupo Estado Islâmico para recrutar combatentes estrangeiros, que têm chegado ao Iraque e a Síria em número recorde nos últimos 18 meses.

"Com isto eles conseguem atrair jovens homens, porque dizem que têm mulheres virgens para eles se casarem", explicou, salientando que os combatentes estrangeiros são a espinha dorsal da luta.
Um relatório da ONU refere que quase 25 mil combatentes estrangeiros de 100 países estão envolvidos nos conflitos na Síria e no Iraque.

A enviada da ONU acusa o grupo extremista Estado Islâmico de práticas medievais no abuso de mulheres e meninas e que querem construir uma sociedade que reflita o século XIII.

26 maio 2015

Sally Ride, a primeira mulher norte-americana a ser enviada para o espaço

 
Foi no dia 18 de Junho de 1983 que Sally Ride ficou para a história da exploração aeroespacial. 

Nesse dia a astronauta Sally Ride tornava-se na primeira norte-americana a ir ao espaço a bordo do vaivém espacial Challenger. Se fosse viva, Sally Ride celebraria 64 anos. 
  
 A chegada de Sally à NASA 

Sally Ride foi uma das oito mil mulheres que em 1978 responderam ao apelo da NASA para descobrir o primeiro grupo de astronautas feminino daquela instituição governamental. Nascida em Los Angeles no dia 26 de maio de 1951 e formada em Física e em Inglês na Universidade de Stanford, Sally seria uma das eleitas. Outras cinco mulheres foram selecionadas pela NASA (Judith Resnik, Anna Fisher, Kathryn Sullivan, Rhea Seddon e Shannon Lucid) e Sally começou a trabalhar como CAPCOM, área que lida com a comunicação com a nave e a tripulação. 
Sally Ride esteve também envolvida no desenvolvimento do braço robótico canadiano que era acoplado ao espaço de carga da nave espacial. 
  
As missões de Sally no espaço 

Foram duas as missões de Sally Ride no espaço. Na primeira, a 18 de Junho de 1983, Sally seguia a bordo da Challenger na missão STS-7 numa viagem que tinha como objectivo colocar em órbita dois satélites de telecomunicações. Outro dos objectivos da missão passava por algumas experiências farmacêuticas. 

A segunda missão aconteceu em 1984, novamente a bordo da Challenger. Com o cumprimento da missão STS-41-G, Sally Ride acabaria por acumular 340 horas no espaço. Sally teria sido chamada para novas missões a bordo da Challenger, mas um acidente acabou por destruir a nave, tirando a vida à sua colega Judith Resnik e por fazer parar o programa espacial norte-americano durante dois anos. 

Sally Ride acabou por estar envolvida nas investigações de dois acidentes com naves da NASA. O primeiro foi o acidente da Challenger e mais tarde, em 2003, integrou a equipa que investigou o acidente da Columbia. Depois de sair da NASA, a astronauta norte-americana dedicou-se à investigação e leccionou Física na Universidade da Califórnia (UCLA) e também na Universidade de Stanford. Sally Ride foi também diretora no Instituto Espacial da Califórnia. Em Julho de 2012 um cancro no pâncreas foi-lhe fatal.

01 abril 2015

Contos e Novos Contos Eróticos do Velho Testamento

( ou "O Romance da Bíblia" ou ainda "Tentação da Serpente", ambas edições esgotadas)

Com o "post" anterior, onde transcrevo a crítica literária de Maria Teresa Horta, aos meus Contos Eróticos do Velho Testamento e aos Novos Contos Eróticos do Velho Testamento, lida durante a apresentação do 2º volume desta minha saga das mulheres do Livro do Genesis, pretendo apresentar aos leitores que o desconhecem, este romance (porque de um romance se trata, dado que cada conto é um capítulo da história e vida das mulheres do Antigo Testamento, de Eva a Ester), por ser uma obra muito diferente dos meus outros livros históricos sobre os Descobrimentos ou o D. Sebastião e o Vidente.

Os contos tiveram várias edições em português, foi traduzida para espanhol e italiano e foi também publicada no Brasil. Tornou-se um best-seller na internet-pirata, incluindo uma versão oral, com milhares de leituras e "downloads" (de que não recebi quaisquer direitos de autor).

É de todas as minhas obras a mais intimista e aquela em que emprego uma linguagem poética, que me é própria (nos restantes romances históricos a linguagem é próxima da de um cronista do período a ser tratado): O volume dos "Contos" é mais dramático e dolorido, o dos "Novos Contos" é mais irónico, duros e provocatório.

Dediquei este romance, escrito em duas partes, «A todas as mulheres mal-amadas, sofridas, exploradas, maltratadas, violentadas ou assassinadas em nome de uma religião, tradição, ideologia ou preconceito». 

O assunto continua actual, talvez mais ainda do que no ano da sua 1ª edição. E é desta edição, a primeira, que quero falar.  Porque as posteriores esgotaram ou já não se encontram no mercado.

Contudo, é possível obter estes dois volumes da 1ª edição, quer encomendando-os nas livrarias, quer  quer na própria Editora Livros Horizonte.

Partindo dos estereótipos do Antigo Testamento, pretendi fazer uma saga histórica, mas também poética, sensual, irónica e dramática das mulheres da Antiguidade, que viviam confinadas nas tendas de pastores nómadas ou nos haréns e serralhos dos palácios dos faraós do Egipto ou dos reis da Pérsia e Mesopotâmia, cujos ambientes são recriados com o maior rigor a partir de uma cuidada pesquisa em documentos da época e em obras de História das civilizações pré-clássicas.

Contos e Novos Contos Eróticos do Velho Testamento



crítica de Maria Teresa Horta                        

Quando um livro traz consigo a estrela da sorte, convocando os leitores e os críticos num mesmo abraço – laço, dado pelo entusiasmo e o elogio literário, como aconteceu a Deana Barroqueiro com “Contos Eróticos do Velho Testamento”, é muito difícil para o escritor conseguir esgueirar-se por entre as enredadas malhas do êxito, soltar-se desse peso que tolhe, para  voltar a partir como antes, de um modo tão solto, tão espontâneo e livre, quanto necessariamente inconsciente e louco, em direcção da aventura incomensurável da escrita. 
 Reexperimentando nos lábios o veneno da queda.
 Mas, também não é fácil para os leitores que amaram esse livro, e sobretudo para os críticos que nele apostaram, elegendo-o com a experiência da sua análise, voltarem a encontrar no trabalho seguinte, a satisfação experimentada no anterior. Quase nunca resistindo, preconceituosamente, à tentação de os comparar. Pior do que isso: exigindo serem mais surpreendidos do que já o foram.
Deste modo, os leitores e os críticos partem para este novo livro...
...desconfiando.
Tal como, confesso, aconteceu comigo, ao entrar na leitura de “Novos Contos Eróticos Do Velho Testamento”: temendo a repetição, a mera cópia, o cliché, a recorrência a um idêntico imaginário e abordagem ficcional. Ou seja, receava ir encontrar o uso, o truque, o abuso da efabulação, o embuste na roupagem dos temas, numa tentativa de retorno constante. Repegando, truncando, estragando a trama daquilo que nos primeiros contos surgia natural e liberto. Afinal, a proposta, a raiz de onde tematicamente partia Deana Barroqueiro para este segundo livro, era a mesma.  
Só que a escritora, como num passo de mágica, com um talento e uma maturidade invulgares, conseguiu contornar todas as dificuldades, e ressurgir com uma escrita ainda mais bela, fulgurante e criativa; sabendo no entanto como reencontrar as pontes, como manter a necessária ligação ao traço anterior:
Carnal.
Visceral.
Feminino.
Ousando a ousadia, mas também a contensão, usando o arrebatamento, mas também o conhecimento do que está a tratar, teimando no fulgor, mas também na sombra, adormentando-se no mel, mas despertando na dureza da crítica social. Refugiando-se nos lugares das mulheres, mas enfrentando o olhar das figuras masculinas que trata.
O livro de Deana Barroqueiro traz consigo a visão da mulher. Lúcido olhar, que ao longo dos séculos tem faltado à visitação deste universo da Bíblia: Velho Testamento moralista, repleto de anciãos preguiçosos, libidinosos e lascivos, de brutamontes ignorantes e violadores, convocados por um Deus irado frente à própria incompetência e à própria imagem, segundo a qual teria criado o homem, de quem afinal não gosta e castiga. E é precisamente no enredamento deste dilema, que se abrem as páginas do primeiro dos dezanove textos que, fragmentariamente, irão formar um todo literário uno: falando de Noé e de Jacob, de Isaac e de Sansão, de Asmodeu e dos circuncisos, de Labão e de Abraão, arrancando-os do seu pedestal de heróis divinos, com uma habilidosa crueldade implacável.
Aqui terminam as idealizações masculinas, os embustes. E começamos a examinar de forma diferente, atenta e precisa, as figuras femininas, uma por uma: Sara e Ester, Lia e Raquel, Jael e Pesechet, Dalila e Susana, que nos tinham sido mostradas como seres secundários, fiéis servidoras de seus senhores, campos de fertilidade ou sítio privilegiado de prazer masculino. Portanto: ora escravas e concubinas, ora esposas fiéis, de bom grado submissas e rendidas. Personagens de uma intocável história sagrada, criadas a partir de um imaginário extremamente machista, que na realidade mais não faz do que iludir a real importância das suas vidas, pois é nelas que tudo começa e que tudo acaba, como mostram, aliás, estes textos de Deana Barroqueiro. Dando ela ao mesmo tempo a ver os perigosos jogos secretos, o pacto com a natureza, a urdidura da inteligência e da sensibilidade destas prisioneiras de um destino nefasto, divididas entre o ardil, o rancor e o susto, o hábito e a determinação, a passividade e a rebeldia.
Perversas e esquivas.
Mas sobretudo: ardentes.
E Deana Barroqueiro, através de uma escrita toda ela tecida por sensualidades e cintilações audaciosamente eróticas, exibe com evidente alegria essa ardência jubilosa, junto à qual a sexualidade dos homens parece ridícula, grosseira e primária. Desejo grotesco se comparado com o desejo matizado das mulheres, tomando corpo no recato das tendas, por entre os panos, os mantos e os lençóis de linho bordados a ponto cheio. As sedas, as fitas ocres e as rosas estriadas. As opalas mortíferas, os odores almiscarados, tingidos com o perfume da tília e da madressilva, que chegavam do paraíso negado, contrastando com a solidão do deserto.
Sexualidade nunca domesticável
Púrpura e carmim.
Insaciável.
Tal como na altura os homens a viam, assustando-se, sem dúvida desagradados.  Desagrado esse que, segundo a invenção inexcedível da ficcionista, teria feito Jacob perguntar-se, “se não seria uma boa solução estender e excisão do sexo a todas as mulheres, para castrar de vez a ávida carnalidade e insaciável fome de prazer que pareciam fazer parte da índole das fêmeas, sem excepção, já que não resistiam a converter os homens numa presa fácil e a escravizá-los aos seus apetites”.
Deste modo, Deana Barroqueiro não só derruba o hipócrita e gravoso preconceito que tem vindo a segundarizar a sexualidade feminina, apostando na sua frigidez, como fica surda ao apelo masculino, recorrente ao longo de todo o Velho Testamento, de se manter escondida a inacreditável fragilidade dos homens, não lhe dando visibilidade. Desse modo, deixando de fora a sua iludida, ilusória fraqueza – a dos membros e a do espírito –, sem história nem imagem. Mas, que o rútilo efeito de espelho dos presentes textos, reflecte em múltiplas figurações cristalizadas. É nelas, aliás, que se vem entroncar desta vez a ironia, que agiliza – nunca suaviza – o tom, contribuindo até para acentuar a venalidade, a que assistimos numa sucessão de vários acontecimentos e actos.
“O Romance da Bíblia” possui o riso que se acontece debaixo da palma da mão entreaberta sobre a boca, mas igualmente o desfrute do gozo, ambiguamente trocado, tomado, pelo gosto do outro, no tactear da língua. Um livro de memórias ancestrais, que nos mostra o despertar da mortal e venenosa serpente das seitas religiosas, do obscurantismo, do sexismo com a sua rancorosa face. Mas, “O Romance da Bíblia” é ainda a beleza trabalhada, cinzelada, com um bom gosto literário inusitado, eu diria mesmo raro, na ficção portuguesa. Histórias de onde se desprende um erotismo quente, dolente, pleno de mistérios que jamais se desvendam, jogando-se na devassa da roupa que, aliás, Ester nunca tira. No ardil. Um erotismo de transparências nacaradas, um erotismo transbordante, que a si mesmo impõe ganhar o traço feminino da criatividade. Assim como o encanto mágico das mil e uma camélias do corpo da escrita.  
                                                                                   Maria Teresa Horta   
                                                                                 

30 março 2015

Crianças recrutadas pelo EI decapitam xiitas na Síria



Nove crianças recrutadas pelos selvagens 'jihadistas' do auto-proclamado "Estado Islâmico" (EI) decapitaram nove muçulmanos xiitas, denunciou hoje o Observatório Sírio para os Direitos Humanos. 
 
 Em comunicado, a Organização Não Governamental (ONG) explicou que o EI divulgou um vídeo onde aparecem nove crianças a decapitar maiores de idade, acusados de pertencer ao islamismo xiita, mas não especifica a área ou o momento em que estas execuções foram realizadas.

As crianças, oito dos quais aparecem encapuzadas nas fotos, estavam também munidas de metralhadoras automáticas. 
 
Segundo o Observatório, o Estado Islâmico recrutou pelo menos 400 menores em zonas que controla na Síria desde o início deste ano, a que chama de "cachorros do califado".

O grupo extremista abriu pontos de recrutamento de crianças nas cidades de Al Mayadin e Albukamal, leste da província síria de Deir al Zur, procurando crianças que vivem perto das suas instalações e os que frequentam as escolas e mesquitas, além das que vão assistir a execuções e castigos do EI, como apedrejamentos, decapitações e crucificações.

Todas as crianças são submetidas a cursos de instrução militar e de religião, nos quais recebem a ideologia 'jihadista'.