Romance: Tentação da Serpente


Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento.
Uma história de mulheres, para mulheres, de que os homens também gostam.

"Tentação da Serpente" é uma reedição de "O Romance da Bíblia", publicado em 2010.

25 novembro 2013

Portuguesas envolvidas em casamentos por conveniência e bigamia no Reino Unido

Lusa  27/10/2013    
 
Projecto de lei britânico quer combater casamentos por conveniência. Em 2012, foram denunciados 1891 casos suspeitos.

Em apenas dois dias, uma portuguesa foi condenada por bigamia e outra presa por suspeita do mesmo crime devido ao envolvimento em casamentos por conveniência com imigrantes ilegais nigerianos no Reino Unido. Estes dois casos fazem parte de uma realidade mais alargada que chega a envolver redes criminosas. O parlamento do Reino Unido está agora a discutir um projecto de lei que pretende reduzir o risco de casamentos por conveniência usados para facilitar a imigração ilegal.
 
Um casamento é considerado por conveniência quando um cid
adão não europeu casa com outro de um país da União Europeia com a intenção de obter um visto de residência de longa duração, bem como o direito de trabalhar e reclamar apoios sociais.
 
Actualmente, os noivos têm de entregar os papéis para o casamento 15 dias antes na igreja ou conservatória do registo civil, cujos dados serão afixados em edital, mas o governo quer estender este período para 28 dias e, em alguns casos, para 70 dias.

O objectivo é permitir às autoridades investigar as suspeitas levantadas pelos conservadores ou sacerdotes. “Os casamentos por conveniência são um alvo fácil há muito tempo para imigrantes que procuram contornar as nossas leis de imigração, muitas vezes com a ajuda de redes criminosas”, afirmou recentemente o secretário de Estado para a imigração, Mark Harper.

O ministério do Interior britânico calcula que, todos os anos, quatro a 10 mil pedidos de visto de residência no Reino Unido são feitos com base em casamentos por conveniência. Só em 2012, foram denunciados 1891 casos suspeitos, indicam números oficiais.

O envolvimento de portugueses tem sido notado pelos serviços consulares, tendo em 2011 o então cônsul, José Macedo Leão, afirmado à agência Lusa de ter tido conhecimento de “pelo menos vinte”, acrescentando que nem todos lhe eram comunicados pelas autoridades britânicas.

Quatro casamentos em dois anos

Tânia Aniceto, de 25 anos, foi condenada a 18 de Outubro a quatro anos de prisão por bigamia e por auxílio à imigração ilegal no Reino Unido após casar com quatro nigerianos no espaço de dois anos.

A portuguesa só foi apanhada porque o seu nome e outro falso que também usava, Sandra Monteiro, levantaram suspeitas pois apareciam repetidos nas candidaturas dos homens para obter autorização de residência.

Durante o julgamento confessou que cobrava 400 libras (470 euros) por cada casamento, que tiveram lugar entre Maio de 2010 e Junho de 2012 em quatro locais diferentes: Brent, Lewisham, Rochdale e Southwark.

Uma acusação de posse de documentos de identificação falsa foi retirada, mas Tânia Aniceto acabou por declarar-se culpada de cinco crimes de auxílio à imigração ilegal e quatro de bigamia.

Apenas dois dias antes, a 16 de Outubro, uma outra portuguesa de 22 anos foi detida em flagrante a casar com um imigrante nigeriano de 32 anos, em Harrow, no norte de Londres, aguardando agora julgamento.

A polícia interrompeu a cerimónia numa conservatória do registo civil e confirmou as suspeitas de irregularidade quando questionaram cada um individualmente e perceberam que pouco sabiam sobre o respectivo noivo.

Numa reportagem transmitida na Sky News, os agentes que conduziram a operação disseram suspeitar que a mulher, cuja identidade não foi revelada, já tinha casado antes nas mesmas circunstâncias.

No últimos meses, foram vários os portugueses apanhados pelas autoridades em casamentos falsos: em Setembro, Naydyne Botelho, de 27 anos, e Cátia Lima, de 32 anos, foram condenadas a 12 meses e 16 meses de prisão, respectivamente. Ambas eram residentes em Londres mas foram detidas ao tentarem casar na Irlanda do Norte com dois homens do Bangladesh.

Rede criminosa

Em Novembro do ano passado, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) desmantelou uma rede criminosa de casamentos de conveniência, auxilio à imigração ilegal e falsificação de documentos, numa operação em simultâneo em França e no Reino Unido.

Segundo o SEF, esta rede criminosa dedicava-se a angariar homens e mulheres portugueses “em situação económica precária” para casarem com cidadãos estrangeiros em vários países europeus a troco de avultadas somas em dinheiro, entre 15 mil a 20 mil euros.

Os casamentos realizavam-se em países como Espanha, França, Suécia, Reino Unido, Dinamarca e Alemanha e a maioria dos “noivos” era oriunda de países como a Índia, o Paquistão ou o Bangladesh, mas também da Nigéria.

Portuguesa condenada em Londres por envolvimento em casamentos falsos

Uma portuguesa foi, esta segunda-feira, condenada por um tribunal em Londres, Inglaterra, a dois anos de prisão por ter participado num casamento falso e colaborado na organização de outros quatro entre mulheres portuguesas e homens do Bangladesh.

Ao declarar a sentença no tribunal criminal de Snaresbrook, no norte da capital britânica, o juiz Inigo Bing considerou, todavia, que Maria Marques, de 47 anos, teve um "papel secundário por não falar inglês".

Ainda assim, considerou-a cúmplice de "exploração fraudulenta da lei de imigração britânica que permite aos homens do Bangladesh adquirir um visto de residência se casarem com cidadãos de países da União Europeia".

O "papel principal" na organização dos casamentos pertenceu ao marido, de 22 anos, também ele do Bangladesh, um "homem de negócios, experiente, bem-educado e persuasivo", descreveu o juiz. Mohamed Tanin foi assim condenado a quatro anos de prisão, após os quais arrisca, segundo a legislação britânica, a ser deportado.

Ambos já cumpriram cerca de quatro meses de prisão preventiva, que irá contar para o tempo que irão passar na prisão, e podem pedir a liberdade condicional após concluída metade da sentença.

Portuguesas casam por mil euros para legalizar estrangeiros na UE

Dificuldades económicas, desemprego e outros problemas de vidas difíceis levam mulheres portuguesas a cair nas redes ilegais de falsos casamentos para que os imigrantes possam obter residência e trabalho no espaço europeu. Os imigrantes pagam porque precisam de papéis. Redes ganham a maior fatia do dinheiro e alargam raio de ação aos países nórdicos e do Leste.

Investigação levada a cabo pelo DN:

Casaram… e viveram longe um do outro para todo o sempre
O ‘sim.’ Portuguesas “vendem” o estado civil para legalizar estrangeiros. E até podem casar em vários países e continuar solteiras por cá. Mil, dois mil ou mesmo três mil euros parece pouco, mas são quatro meses de salário mínimo, o salário que não têm. Os noivos querem viver no espaço Schengen e chegam a pagar 25 mil euros. No negócio das redes, ganham os cabecilhas que dão “gorjetas” a angariadores, testemunhas, intérpretes e funcionários. Estendem, agora, os tentáculos à Europa de Leste comunitária. Os homens também casam para legalizar estrangeiras mas muitos acreditam que elas os amam.

CÉU NEVES (textos)

“Eles prometem mundos e fundos e caímos que nem umas patinhas se estamos mesmo a precisar. Estava na miséria autêntica”, justifica Cristina, de 44 anos. Tinha e tem dois filhos e o neto a cargo. “Eles”, os cabecilhas, acenaram-lhe com dois mil euros para se casar com um imigrante ilegal. Garantiram-lhe que ninguém da sua família precisava de saber, que não ia ter problemas com a polícia e que o futuro marido nunca a incomodaria. Hoje lamenta-se: “Quando uma pessoa está no desespero é capaz de fazer tudo!”

Desespero é não ter trabalho, ter dívidas que não se conseguem pagar, não ter dinheiro mas ter vícios. Cinco anos depois é a explicação que Cristina dá para estar envolvida numa rede de casamentos por conveniência ou casamentos brancos, como são nomeados. Acabou detida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e já muitos ficaram a saber da união de mentira com um homem cujo nome nunca conseguiu pronunciar.

Duas das filhas também casaram através da mesma organização. “Esta e a mais velha [24 anos], que não sei onde anda” “Esta”, é Rosana, de 23. Sentadas num banco de um jardim dos subúrbios de Lisboa, mãe e filha contam como se deixaram levar por algumas centenas de euros. Percebe-se nas entrelinhas que continuam a ser contactadas por elementos que organizam estes casamentos e que continuam a precisar de dinheiro… A mãe tem um trabalho temporário, a filha está desempregada. As duas vivem no concelho da Amadora e foram casar a Vila Nova de Gaia. “É assim”, explica Rossana, “os das redes perguntam se queremos casar e nós perguntamos ‘quanto’? Depois dizem-nos quem são os maridos. Prometeram-nos dois mil euros por casamento, mas nunca deram isso.”

“Os das redes”, em regra, recrutam as mulheres nos bairros periféricos e pobres das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, basta que tenham um cartão de identidade europeu. Portuguesas de baixa condição socíoeconómica e em situações de extrema vulnerabilidade, solteiras, viúvas ou divorciadas. Os elementos da organização, normalmente membros das comunidades imigrantes legalizados no País, encarregam-se de fazer a documentação e acompanhar as mulheres aos organismos públicos se for necessária a presença delas para obter os documentos.

As noivas têm de se deslocar aos serviços para colocar a apostila nos assentos de casamento, um certificado de autenticidade dos documentos públicos para apresentação no estrangeiro. Têm de fazer o passaporte, que é a identificação que usam no estrangeiro por não referir o estado civil, para atestar uniões de facto, regularizar o marido, comprar ou arrendar casa, etc. Têm de se deslocar ao país onde o noivo vai pedir o título de residência.

As mulheres viajam com total desconhecimento de com quem vão e para que sítio se deslocam. E, salvo os procedimentos obrigatórios para o casamento e a regularização do imigrante, continuar na sua rotina diária fora destes encontros. Nem sequer atualizam o estado civil nos documentos oficiais porque este é um segredo bem guardado. Os maridos não ficam em Portugal.

Elas acreditam que se podem divorciar passados três anos ou quatro, pensam que isso acontecerá logo que o imigrante se legalize através do casamento com uma cidadã comunitária E têm de estar disponíveis para as deslocações, já que as quantias prometidas lhes são pagas em parcelas. Muitas queixam-se de não obter o acordado, que lhes pagaram apenas mil ou 1500 euros, mas há quem receba três mil euros.

“Vítimas? Olhe, acabamos por ser nós. Aproveitam-se um bocado da nossa falta de dinheiro e da aflição das mulheres por não terem trabalho”, assegura Carla Marisa, uma das noivas envolvidas no processo de Gondomar. Esta rede (PJ) e o caso Binder (SEF) foram os primeiros megaprocessos de casamentos por conveniência no País.

As portuguesas

“Oriundas de bairros carenciados, prostitutas ou toxicodependentes, em alguns casos com vários filhos a cargo e até a viver com outro homem”, assim se descrevem no processo Binder-Bind as portuguesas que aceitam casar. A rede realizou, entre 2007 e 2010, 175 casamentos (os provados) entre portuguesas e indostânicos (sobretudo paquistaneses e indianos) . São as Lilianas, as Carias, as Vânias, as Marlenes, as Isas, asTatianas, as Cristinas, as Paulas, as Sandias, as Patrícias, as Raquéis, as Mónicas, as Martas, as Saras, as Márcias e as Filipas, as Anãs e as Marias, nomes compostos e muitos deles conjugados entre si.
“Tudo nomes pobres, não é?” observa Carla Cristina, outras das noivas de Gondomar enquanto espera para ser ouvida pelos juizes. Não são só os nomes, também as histórias de vida são muito semelhantes.

“Não tinha a noção do que estava a fazer, acho que ninguém tem. Fui várias vezes a Espanha (três a Barcelona) e só depois me apercebi da gravidade da situação, a verdade é que o dinheiro que me deram ajudou imenso”, conta Carla Marisa. Não teve medo de viajar com desconhecidos? “Pensei nisso e avisei uma amiga, mais ninguém soube. Telefonava-lhe todos os dias quando estava fora. Tinha 38 anos na altura, hoje tem 42, três filhos e continua sem emprego.

Deslocou-se a Espanha com outras noivas, onde abriu contas bancárias e entrou em repartições públicas espanholas que não consegue identificar. Da cerimónia lembra-se de ser uma confusão, o marido nunca mais o viu. “Estavam 18a 19pessoas na conservatória e o meu casamento não estava marcado. Depois ele [um membro da rede] entrou lá para dentro e voltou a dizer que estava tudo bem, que podíamos casar.”
(...)

Os estrangeiros

As redes organizadas a operar em Portugal trabalham com imigrantes ilegais, quer residam na Europa ou ainda estejam nos países de origem, oriundos sobretudo do Paquistão, da índia e do Bangladesh, de Marrocos, um ou outro do Nepal. Há também nigerianos mas esses operam no estrangeiro. Depois há todo um leque de imigrantes que combinam uniões, como os brasileiros, mas a maioria não tem por detrás uma rede organizada São casamentos individuais, explica Luísa Maia Gonçalves, investigadora do SEF e ex-diretora da Direção Central de Investigação e Análise de Informação (DOPAI), sendo mais difícil detetar as fraudes. Quando se descobre cada uma destas uniões resulta num inquérito e o SEF já ultrapassou os 300 no final de2012. A GNR, através do Núcleo de Investigação Criminal do Destacamento Territorial de Vila Real, desmantelou em janeiro de 2012 uma rede de casamentos fictícios. Catorze meses de buscas culminaram na constituição de dois arguidos: um português e uma espanhola Angariavam homens para casarem em Portugal e em Espanha com estrangeiras, maioritariamente brasileiras. As “vítimas” acabam por ser os portugueses que se convencem ter encontrado o grande amor, quando, afinal, servem apenas o objetivo de quem se quer legalizar”, refere Carlos Patrício, coordenador do Gabinete de Estudos e Planeamento e Formação do SEF. Mais recentemente, também o casamento gay é expediente para a legalização. Voltar às histórias de Cristina e da filha Rossana é falar das vidas de centenas de mulheres recrutadas pelas redes de imigração ilegal. É comum a mãe levar a filha, a irmã levar a irmã e a prima, a amiga levar a amiga ou uma simples conhecida. O contacto faz-se através do passa-palavra, numa ou outra situação por anúncios duvidosos. Há quem tenha procurado emprego e receba uma proposta de casamento.
(...)

É difícil perceber como é que os funcionários das conservatórias e dos registos civis não desconfiam. Os sinais de que são casamentos arranjados testemunham-se nos tribunais. Transformam-se em certezas para meter na prisão sobretudo os cabecilhas das redes, já que parte dos restantes elementos têm sido absolvidos ou apanham pena de prisão suspensa. Sinais que passaram despercebidos à conservadora de Gondomar que realizou 249 casamentos entre portuguesas e indostânicos de 25 de novembro de 2007 até 9 de janeiro de2009, dia em que foi detida. O tribunal de primeira instância obteve a prova de que 122 casamentos era falsos mas acabou por a absolver.

Casamentos diferentes com as mesmas testemunhas e intérpretes, marcados no dia e realizados sucessivamente, na maioria das vezes fora do horário de expediente ou ao sábado. Casais e testemunhas vestem roupa prática. Os noivos conhecem-se nas conservatórias e nem sequer fingem contactos anteriores. Não têm uma língua comum. Não trocam alianças e quando as trocam são emprestadas ou em pechisbeque. Não selam o casamento com o beijo da praxe e cada um vai para seu lado.

Ir casando por toda a Europa e continuar solteira

Deslocalização. Redes avançam na Europa à medida que são detetadas e mantêm recrutamento no País. “Xeque ao Rei” foi uma operação europeia que deteve 26 pessoas, em Portugal, França e Reino Unido. E também há portugueses condenados lá fora.

Os casamentos realizados no País entre nacionais e estrangeiros têm diminuído nos últimos anos, sobretudo entre portuguesas e cidadãos da índia, do Paquistão e do Bangladesh. Não quer dizer que sigam a tendência dos tempos nem que as redes tenham fechado a atividade em Portugal, diz o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF). Estas organizações continuam a recrutar mulheres, desta vez para casar ou simular uniões de facto em países do espaço Schengen, agora na Europa do Leste. E elas continuam “solteiras”. A mancha geográfica onde atuam as redes de casamentos brancos abrange cada vez mais países europeus, progredindo no terreno à medida que vão sendo detetadas pelas polícias nacionais. Os cabecilhas destas associações criminosas têm tentáculos em zonas estratégicas. Muitos deles são estrangeiros integrados nesses países e com facilidade de circulação que recrutam sobretudo mulheres, mas também homens, embora em muito menor número. Existem, também, acordos matrimoniais entre casais, tendo em vista a legalização de um deles, mas não têm por detrás uma rede e são mais difíceis de provar. Casamentos heterossexuais e, com a nova lei, de homossexuais.

Ver mais em: http://www.asjp.pt/2013/11/24/portuguesas-casam-por-mil-euros-para-legalizar-estrangeiros-na-ue/

23 novembro 2013

“Escravatura moderna” em Hong Kong

É assim que a Amnistia Internacional qualifica a situação de muitas empregadas domésticas na região vizinha. O título do estudo apresentado por aquela organização é elucidativo: “Exploradas pelo lucro”.
 
A Amnistia Internacional (AI) qualificou ontem de “escravatura moderna” a condição em que vivem e trabalham milhares de empregadas domésticas em Hong Kong.
As jovens são exploradas pelas agências de recrutamento atraídas pela promessa de altos salários, afirma a organização de defesa dos direitos humanos no mais recente relatório publicado na antiga colónia britânica.
 
Na realidade, refere a AI, as jovens mulheres vêem-lhes confiscados os seus documentos de identificação e são-lhes extorquidas avultadas somas por essas mesmas agências pelas suas indignas condições de trabalho.
 
O estudo, sob o título “Exploradas pelo lucro”, assinala como as agências de recrutamento restringem a sua liberdade de movimentos, recorrendo ao uso de violência física e doméstica, submetendo-as a longas jornadas de trabalho ou limitando-lhes a comida.
 
Segundo o relatório, a maior parte das mulheres entrevistadas afirmou que os seus documentos de identificação se encontram nas mãos das agências ou das famílias que as contratam, enquanto um terço disse não ter autorização para sair das casas para as quais trabalham.
 
“A partir do momento em que as mulheres aceitam assinar o contrato para trabalhar em Hong Kong, ficam presas numa rede de exploração que, em alguns casos, se assemelha à escravatura moderna”, sublinhou Norma Kang Muico, especialista de direitos dos imigrantes da Ásia-Pacífico, à Amnistia.
 
Segundo os dados da AI, uma em cada três inquiridas não tem autorização para sair da casa do patrão e inúmeras afirmaram sofrer de fome, de longas jornadas de trabalho – em média 17 horas por dia –, sem um dia de descanso, subsistindo com salários miseráveis.
 
Há ainda vários relatos de violência – psicológica ou física, incluindo abusos sexuais – de acordo com o relatório da AI, que inclui depoimentos.
“Bateu-me por trás e arrastou-me para o quarto. Fechou-me à chave e continuou a agredir-me e a dar-me pontapés. Acabei com marcas no corpo todo e a sangrar”, disse à AI uma das vítimas maltratadas pela família que a contratou.
 
Outra vítima, de 26 anos, proveniente de Jacarta, maltratada fisicamente com regularidade, contou um dos episódios: “Uma vez a dona da casa mandou os dois cães morderem-me enquanto ela filmava com o seu telemóvel. Fui mordida uma dúzia de vezes. Ela não parava de ver [o vídeo] e de se rir”.
O relatório acusa a Indonésia e Hong Kong de passividade relativamente ao dossier.
 
O estudo tem por base entrevistas realizadas a 97 empregadas domésticas indonésias, cujos resultados foram cruzados com os de uma sondagem levada a cabo pela União de Trabalhadores da Indonésia, a qual contou com uma amostra de aproximadamente mil mulheres.
 
Actualmente, Hong Kong conta com cerca de 300 mil empregadas domésticas, a maioria das quais oriundas da Ásia, sobretudo das Filipinas e da Indonésia.

Ponto Final | Novembro 22, 2013

Três mulheres escravizadas 30 anos em Londres

Quando vejo referências mordazes e moralistas, nos media portugueses e internacionais, à prática da escravatura por Portugal, no tempo dos Descobrimentos (corrente e aceite em todo o Mundo, nessa época), fico pasmada por ver como na Europa civilizada - Áustria e Londres, por exemplo - ou na América, em pleno Século XXI, são cada vez mais frequentes as descobertas de casos repugnantes de sequestro e escravatura, incluindo a sexual, que se arrastam por décadas, em bairros supostamente normais, povoados de gente aparentemente normal.
Durante 30 anos, 3 mulheres - uma malaia, uma irlandesa e uma britânica (que parece ter nascido na casa  e nunca ter posto os pés na rua) - viveram sequestradas e em regime de puro terror, numa casa de uma rua comum, no sul de Londres.
Segue o artigo do Público:

Quais terão sido “as algemas invisíveis” que mantiveram três mulheres escravas 30 anos em Londres?
, Público, 22/11/2013
                                 
As mulheres terão sido sujeitas a maus tratos “físicos, psicológicos e mentais",
disse o detective Kevin Hyland
 
A Scotland Yard diz nunca ter lidado com nada como este caso. A mais jovem das mulheres, de 30 anos, nunca terá saído de casa.

A polícia britânica está a tentar compreender quais terão sido “as algemas invisíveis” que mantiveram presas durante mais de 30 anos três mulheres que viviam como escravas “numa casa banal numa rua normal” em Lambeth, no Sul de Londres. “Nunca vimos nada assim”, diz um comunicado da Scotland Yard.

As três mulheres estão profundamente traumatizadas e é difícil interrogá-las para compreender a história de uma malaia de 60 anos, uma irlandesa de 57 anos e uma britânica de 30 anos. “Precisamos de tempo para trabalhar com as três mulheres, que estão muito traumatizadas. Pensamos que a mais jovem nunca esteve em contacto com o mundo exterior”, relatou o detective Kevin Hyland, falando da mulher britânica.

Eram mantidas em cativeiro por um casal de sexagenários, que não é de nacionalidade britânica. O casal, que está há muitos anos no Reino Unido, foi detido na quinta-feira e foi ontem libertado, sob caução, até Janeiro, enquanto a polícia continua a investigação pela acusação de trabalhos forçados e esclavagismo.

As autoridades estão a investigar se a mulher mais jovem, que se crê ter nascido dentro da casa, será filha da irlandesa e do suspeito de 67 anos, que as mantinha em cativeiro.

Os dois membros do casal, ambos de 67 anos, foram presos na década de 1970, por suspeita de violações da lei da imigração e também em relação com um caso de escravatura e servidão doméstica, avançou a polícia. Este caso evoca outros de longos sequestros como os das três mulheres raptadas por Ariel Castro, em Cleveland, Ohio (EUA) ou de Elisabeth Fritzl, mantida em cativeiro pelo próprio pai, na Áustria.
 
A libertação das três mulheres já ocorreu a 25 de Outubro, depois de a irlandesa ter visto uma reportagem na televisão em que aparecia Aneeta Prem, fundadora da organização não-governamental Freedom Charity, que luta contra os casamentos forçados. Aparecia no ecrã um número de telefone para pedir ajuda, e a irlandesa reuniu coragem para ligar, a 18 de Outubro.

Não foram vítimas de tráfico

Estas mulheres não são vítimas de tráfico humano, diz o Guardian, e por isso a polícia não está à procura de mais vítimas. “O que descobrimos é um cenário complicado e perturbante de controlo emocional que dura há muitos anos; lavagem ao cérebro seria a forma mais simples de o definir”, disse o comandante Steve Rodhouse, da Scotland Yard, citado pelo diário britânico.

A mulher mais velha já vivia no Reino Unido e estava na casa dos suspeitos há mais de 30 anos. A irlandesa terá sido sequestrada pelo casal. E a mais jovem poderá ter nascido naquela casa, sem nunca ter tido contacto com o mundo exterior. Todas terão sido sujeitas a maus tratos “físicos, psicológicos e mentais”, adiantou o detective Kevin Hyland.

A polícia revelou que as mulheres podiam sair de casa mas sempre acompanhadas e que, eventualmente, se trata de alguma espécie de culto, uma vez que o controlo emocional era total. Em casa, eram obrigadas a fazer determinadas tarefas, sempre supervisionadas.

Após o telefonema para a Freedom Charity, outros se seguiram, para ganhar a confiança das mulheres, até combinar um dia em que elas pudessem sair da casa pelo seu próprio pé – o que aconteceu a 25 de Outubro. “Quando nos encontrámos, lançaram-se nos meus braços, a chorar, e agradeceram-me por lhes ter salvo a vida. Houve muitas lágrimas, foi muito emocionante”, contou Aneeta Prem à televisão britânica ITV.

Escravatura moderna

O caso é chocante e é inédito por ter durado tanto tempo, mas a escravatura, abolida quase há 200 anos, continua a existir na Europa. Ainda a 23 de Outubro, recorda a AFP, um octogenário e a sua esposa foram condenados no Reino Unido a penas de 13 e cinco anos de prisão, por exploração e violação durante dez anos de uma jovem paquistanesa surda e muda.

A história das três mulheres “é horrível”, disse à BBC Andrew Wallis, presidente da associação Unseen (sem serem vistos). “Mas apenas ilustra um problema que se estende ao mundo inteiro.” No mês passado, uma organização não-governamental britânica calculou entre 4200 e 4600 o número de vítimas, no Reino Unido, de alguma forma de escravatura moderna, como trabalho forçado, tráfico de seres humanos e casamentos forçados.

“É preciso compreender que estes casos não são raros. A escravatura moderna é uma realidade e existe no Reino Unido”, alertou Frank Field, vice-presidente da Fundação contra o Tráfico de Seres Humanos.

18 novembro 2013

“Como podemos pedir ajuda se não entendemos a lei?” - Macau

Salários abaixo do índice mínimo de subsistência, horários sobrecarregados, ausência de folgas e férias, e até agressões e violações. Seis empregadas domésticas indonésias estiveram ontem na sede da Associação Novo Macau para falar das suas dificuldades laborais. Os seus depoimentos vão integrar o relatório sobre direitos humanos que a associação vai entregar à ONU.
Inês Santinhos Gonçalves

Um salário mínimo para as empregadas domésticas fixado por lei seria essencial, defende a Peduli. E a associação de defesa dos direitos dos trabalhadores indonésios não pede muito: 3500 patacas por mês para as trabalhadoras que vivem em casa dos patrões e 4200 para as que vivem fora. Hoje, dizem, o salário mais comum é de 2800 patacas mensais, mas as iniciantes recebem muitas vezes 2500.
O Governo está actualmente a preparar um diploma para definir o salário mínimo. A consulta pública, que terminou na sexta-feira, dava vários valores à escolha, sendo o mínimo 23 patacas por hora ou 4784 por mês, e o máximo possível 30 patacas por hora ou 6240 por mês.

Sete membros da Peduli – seis eram empregadas domésticas – estiveram ontem na sede da Associação Novo Macau (ANM), onde falaram das suas condições laborais e das dificuldades que enfrentam como trabalhadores migrantes. A ANM conta apresentar em meados de Dezembro o seu relatório sobre os direitos humanos em Macau à ONU – este ano, pela primeira vez, vai ter um capítulo dedicado aos direitos das minorias, que incluirá os trabalhadores migrantes e a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays Bissexuais e Transexuais).

“A ONU pediu ao Governo de Macau para entregar um relatório até Março do próximo ano. A protecção dos trabalhadores migrantes foi pedida pela ONU mas ainda não recebemos informação do Governo sobre isso. Queremos receber relatos na primeira pessoa para podermos incorporar no relatório. Queremos proteger os trabalhadores migrantes de serem explorados”, explicou o presidente da ANM, Jason Chao.

Não é só a questão salarial que preocupa estas trabalhadoras. São também as agências de emprego que cobram cerca de sete mil patacas sem garantias de encontrarem um trabalho e ficam com os passaportes das clientes enquanto elas permanecerem no território. “Diferentes agências têm formas diferentes de levar dinheiro, mas todas levam. Não há agências que não levem dinheiro”, comentou George Young, um dos responsáveis da Peduli.

A regulamentação que obriga os trabalhadores a voltarem ao país de origem durante meio ano quando expira a validade do visto de trabalho é outro dos pontos que desagrada às empregadas domésticas, que só podem mudar de emprego quando o seu contrato chega ao fim.

As seis mulheres que ontem estiveram na sede da Novo Macau vivem todas em casa dos patrões, um trabalho que descrevem como ininterrupto. Muitas disseram não ter sequer uma folga por mês nem horas de descanso suficientes. “Às vezes vamos para a cama à meia-noite e acordamos às 6h”, conta uma. “Quando os patrões estão de férias e vão para cama tarde, também temos de ir”, acrescenta outra. O trabalho em dias de feriado é frequente.

O trabalho intenso torna a distância das famílias ainda maior. Muitos patrões, conta Young, proíbem as empregadas de usar o seu próprio computador em casa para não gastarem electricidade. “Não vou a casa há três anos”, diz uma das mulheres. Na associação há casos de quem não veja a família há sete anos.

A liberdade religiosa também fica comprometida: “O meu patrão permite-me rezar em casa, mas o anterior não. Alguns patrões não permitem que rezemos em casa e temos de o fazer na rua”. As queixas à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais ficam pendentes. “Pedem-me sempre provas. Como podemos provar? Como podemos pedir ajuda ao Governo se não entendemos a lei?”, lança Young. “O Governo não controla as agências. Não temos cópias dos contratos nem os passaportes”, acrescenta.

Além das questões laborais, há também casos de maus tratos. Entre este grupo de mulheres, os abusos nunca foram físicos, mas garantem que outros membros da associação já foram vítimas de situações “muito graves”. Uma empregada doméstica chegou mesmo a ser violada. “Elas têm medo. No nosso país a violação é um pecado, elas têm medo de falar disso. É preciso provar. Como podemos provar? Podemos ir ao consulado da Indonésia e eles arranjam um bilhete de volta a casa. É o que se pode fazer”, descreve George Young.

Doméstica mas não familiar

A segunda parte da sessão foi dedicada à comunidade LGBT, onde o diploma sobre a violência doméstica dominou o debate. Representantes da Rainbow Macau e da recém-criada Associação de Educação de Género de Macau falaram da importância de manter os casais do mesmo sexo sob a protecção do futuro diploma.

O problema, segundo lhes foi explicado pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça (DSAJ), é lexical. “Em Macau entendem que ‘doméstico’ se refere à família [e não a pessoas que coabitam] e a família é [entendida como sendo gerada] entre um homem e uma mulher”, aponta Jason Chao. A sugestão das três associações é que, à semelhança do que foi feito em Hong Kong e Taiwan, se evite o termo ‘família’, de modo a ser mais inclusivo.

Esta proposta foi apresentada ao director da DSAJ, André Cheong, na passada sexta-feira, que prometeu estudar o assunto, diz Chao. No entanto, o presidente da ANM salienta que, se acordo com o Instituto de Acção Social (IAS), foi a própria DSAJ que sugeriu remover a referência aos casais do mesmo sexo.

“Nos nossos encontros com o IAS, disseram-nos que a inclusão dos casais do mesmo sexo foi sugerida por assistentes sociais da linha da frente, por terem lidado com casos [de violência]. Se é assim, como podem não ajudar os LGBT?”, criticou Anthony Lam, presidente da Rainbow Macau.

“Não queremos uma lei específica para combater a descriminação. Queremos igualdade. Sem incluirmos os casais do mesmo sexo na legislação sobre violência doméstica, não podemos falar de igualdade”, rematou Jason Chao.

Ponto Final - Macau, 18 de Novembro 2013

15 novembro 2013

Canadá desmantela rede mundial de pedofilia

Canadá desmantela rede mundial de pedofilia; 348 pessoas presas
AFP - Agence France-Presse

Publicação: 14/11/2013 22:40 Atualização: A polícia canadense anunciou nesta quinta-feira à noite ter desmantelado uma vasta rede de pedofilia internacional, ao término de uma investigação envolvendo pelo menos 348 pessoas ao redor do mundo, incluindo padres, professores, policiais, médicos e enfermeiras.

A investigação em quase 50 países levou à prisão de seis autoridades públicas (policiais ou juízes), nove religiosos, 40 profissionais do ensino, três famílias de acolhimento e nove médicos e enfermeiras.

Dos 348 detidos, 108 foram Canadá, 76 nos Estados Unidos, e 164 em outros países, como Brasil, Suécia, Noruega, Espanha, Irlanda, Grécia, Japão, Argentina, Austrália e África do Sul - revelou a polícia de Toronto.

Na investigação aberta em 2010, a polícia prendeu um morador de Toronto em maio passado, apresentado como o cérebro da rede. Ele foi acusado de compartilhar conteúdos de caráter pedófilo.

A inspetora Joanna Beaven-Desjardins explicou que, em outubro de 2010, seu serviço de luta contra a exploração sexual infantil entrou em "contato com um homem na Internet que compartilhava imagens de crianças pequenas vítimas de abusos sexuais".

Ao todo, 386 vítimas menores foram "tiradas das exploração sexual", mas "suas vidas foram transformadas para sempre", declarou o inspetor-assistente Gerald O'Farell.

Um canadense de 42 anos, contra quem pesam 11 acusações, abriu em Ontário um "site", a partir do qual ele vendia e divulgada fotos e vídeos de atos sexuais entre adultos e crianças.

"Os agentes encontraram milhares de imagens e de vídeos, mostrando atos sexuais horríveis com crianças muito novas", afirmou Joanna Beaven-Desjardins, em uma entrevista coletiva.

Os investigadores também conseguiram acessar um volume significativo de arquivos nos computadores da empresa do suspeito, atingindo 45 terabytes. A receita gerada por essa empresa passava de US$ 4 milhões.

"É a primeira vez, no Canadá, que uma pessoa é acusada de fazer parte de uma organização criminosa em relação à pornografia juvenil", declarou a inspetora.

A polícia informou que o suspeito pagava adultos para filmar cenas pedófilas no Leste Europeu antes de comercializá-las em sua página na Internet.

Para Gerald O'Farrell, a cooperação policial internacional é o meio mais seguro para "identificar, rastrear e combater os que exploram crianças sexualmente".

O inspetor-assistente deu alguns exemplos das pessoas investigadas.

Entre elas, há um advogado que também é treinador de um time juvenil de beisebol no estado de Washington, no noroeste dos Estados Unidos. Esse homem admitiu ter produzido mais de 500 vídeos com crianças de menos de 16 anos.

Em outro caso, um educador do Maternal que trabalhava no Japão também se declarou culpado pela produção de material de teor pedófilo.

Os investigadores mencionaram ainda o caso de um oficial de polícia do Texas.

No uganda muçulmano, a esposa pode servir de aposta... como o carro

Em pleno Século XXI, em países de credo muçulmano, onde vigora a poligamia,  a mulher não passa de um objecto, podendo ser aviltada e humilhada, dada, vendida e até apostada pelo marido.

Adepto do Manchester aposta a mulher e ganha... uma casa

Publicado em 13 nov 2013 às 22:44

O caso terá sucedido na cidade ugandesa de Iganga, antes do Manchester United-Arsenal entre dois adeptos locais de cada uma das equipas.

Uma aposta verdadeiramente bizarra foi feita no passado domingo, antes do Manchester United-Arsenal, a muitos milhares de quilómetros de Old Trafford, pois teve como cenário a cidade de Iganga, no Uganda. Segundo a notícia do jornal ugandês "The Observer", Rashid Yiga, adepto do Manchester United, decidiu apostar a sua mulher e o seu carro em como a equipa de que é adepto ganhava ao Arsenal e Henry Dhabasani, adepto do Arsenal, aceitou o repto, colocando em jogo a sua casa, apostando que os "gunners" venciam.

Resultado, como o Manchester ganhou (1-0), Yiga manteve a posse da sua mulher e do seu carro e ganhou direito a uma nova casa com dois quartos.

A propósito do desfecho da aposta, o "The Observer" relatou:

"Os dois colocaram as suas apostas no papel perante o testemunho dos líderes locais e dos adeptos. Dhabasani, que é casado com três mulheres e tem cinco filhos, desmaiou no local após a derrota do Arsenal. Na segunda-feira, vários adeptos do Manchester United invadiram a sua casa, retirando-o a ele e à família de lá".

11 novembro 2013

Tráfico de crianças em Moçambique

À margem da insegurança dos portugueses, ou das guerras políticas, uma reportagem da SIC mostra um outro drama real que se vive em Moçambique - o tráfico de crianças. Um grupo de 22, algumas bebés com menos de um ano, foi resgatado pela polícia quando estava a atravessar ilegalmente a fronteira entre Moçambique e a África do Sul. Foram detidos dois homens que aparentemente integravam a rede de tráfico e que na altura asseguravam a passagem clandestina dos menores. A reportagem é dos enviados da SIC a Maputo.

05 novembro 2013

TEDxBelémWomen


Tive a honra e o privilégio de ter sido uma das sete mulheres convidadas para fazer uma palestra no evento TEDxBelémWomen, que se realizará no próximo dia 5 de Dezembro, às 15:00h, no Museu da Eletricidade.

Organizada por Isabel Canha e Maria Serina, duas jornalistas em cujas carreiras o mundo dos negócios e das mulheres se encontrou, e no âmbito da Organização Internacional TED-Ideas Worth Spreading, a TEDxBelémWomen, sob o tema “Desbravar novos mundos”, comporta oradoras de diferentes áreas e de um largo espectro etário que vão partilhar ideias e experiências inspiradoras que não deixarão ninguém indiferente.

Já foi criada pela Organização a página do facebook do evento, aqui:
https://www.facebook.com/tedxbelemwomen

28 outubro 2013

Violência doméstica mata cada vez mais

Em seis meses, o número de mulheres mortas por violência doméstica já ultrapassou mais de metade dos números de 2012.
Mariana Cabral

Perguntar a Maria Macedo, diretora técnica da Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV), quantas mulheres morreram este ano em Portugal vítimas de violência doméstica implica receber uma resposta emocionada: "Uma mulher morta que seja é sempre um número altíssimo".

Em 2012, as mortes contabilizadas são, por isso, "demasiadas": 37, segundo os dados da GNR e da PSP, que também registaram 26.084 queixas de violência doméstica.

Este ano, os números continuam a preocupar. Até junho, já se registaram pelo menos 20 assassínios e 21 tentativas de homicídio relacionados com violência doméstica, de acordo com informações recolhidas pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) e fornecidas ao Expresso.

Números que podem ser ainda mais graves do que parecem, uma vez que Maria Macedo revela que as autoridades não contabilizam as mortes das vítimas que não falecem no dia e local da agressão, assim como as mortes de pessoas relacionadas com a vítima de violência. "Conheço um caso, no ano passado, de uma amiga de uma mulher agredida que foi assassinada quando foi a casa do casal buscar alguns pertences. Esse tipo de mortes não entra na contagem", diz.

Prisão 'não domiciliária'

Maria Macedo explica também o funcionamento de uma medida de coação a agressores que tem sido cada vez mais utilizada: a pulseira eletrónica. Até 30 de junho deste ano, 149 arguidos estavam sujeitos a esta vigilância, mais do que os 116 registados nos 12 meses do ano passado, segundo dados da Direção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais.

"É uma medida de afastamento. Os agressores têm uma pulseira que não podem retirar e as vítimas têm um dispositivo, do tamanho de um telemóvel, que apita quando os agressores estão a menos de 'x' metros delas. A pulseira também avisa o agressor que tem de se afastar e os sinais são enviados para a Cruz Vermelha, que depois articula a situação com as autoridades".

"Há 20 anos olhavam para nós como se fossemos de Marte"

Prestes a completar 20 anos, a AMCV acompanhou, no ano passado, 9.135 pessoas em situações de violência, numa média mensal de 192 utentes, nos seus centros de acolhimento, casas de abrigo e grupos de ajuda. "De 1993 para cá a situação em Portugal já é completamente diferente, é um tema que as pessoas reconhecem", explica Maria Macedo. "Há 20 anos olhavam para nós como se fossemos de Marte, até relativamente à igualdade sexual." 

"As mulheres são muitas vezes reféns e aguentam num sistema de sobrevivência, sem se mexerem muito para evitarem mais agressões. O risco de morte é maior na altura em que elas vão sair ou quando estão separadas, por isso é que elas têm de estar informadas, para saberem qual a melhor forma de saírem em segurança", explica, justificando a nova campanha da AMCV, intitulada "Esquecer a primeira agressão é tão difícil como esquecer o primeiro beijo".

A AMCV pretende que haja uma maior consciencialização sobre a violência doméstica, pelo que, para além da campanha que irá ser divulgada nas televisões, associou-se ao Benfica para realizar uma ação no jogo das "águias" frente ao Gil Vicente, hoje à noite: conseguir que trezentos casais se beijem ao mesmo tempo no Estádio da Luz, num gesto contra a violência sexual.  
"As pessoas já têm outra forma de olhar, mas não deixa de ser difícil perceber as coisas e intervir, até por parte das famílias, uma vez que o agressor cria estratégias de isolamento. Às vezes não sabem o que podem fazer, as pessoas perguntam-nos isso. Ainda há muitos mitos em relação à violência doméstica", conclui Maria Macedo.
Informações úteis

- Site da Associação de Mulheres Contra a Violência: http://www.amcv.org.pt
- Site da União de Mulheres Alternativa e Resposta: http://www.umarfeminismos.org
- Site da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima: http://apav.pt
- Informações da PSP sobre violência doméstica: http://www.psp.pt/Pages/programasespeciais/violenciadomestica.aspx
- Se quiser apoiar a AMCV, pode fazer um donativo através de um SMS para 61966 ou ligar para 760 20 70 40 (€0,60+IVA).

Ler mais: http://expresso.sapo.pt/violencia-domestica-mata-cada-vez-mais=f827213#ixzz2j2dyCud7

27 outubro 2013

No Woman, No Drive



"No woman, no drive" ou "Não mulher, não conduzes!”, a versão satírica da famosa canção de Bob Marley, feita pelo artista e activista árabe Hisham Fageeh, a favor das mulheres da Arábia Saudita que desafiaram corajosamente a proibição de conduzir um automóvel. Com ironia, o artista refere-se à interdição até de cantar e ouvir música que o fanatismo religioso impõe à população, sobretudo aos
jovens e às mulheres. Segue a tradução que fiz da fala do cantor e da letra, para os que não são anglófilos, porque vale a pena perceber o que ele canta.


“Olá, o meu nome é Hisham Fageeh. Sou um
artista e activista social. Na verdade não ouço música, mas enquanto estudava
nos Estados Unidos, ouvi esta canção, cantada por um tipo jamaicano que me
chamou a atenção e eu decidi fazer a minha própria versão, com letra relevante
para a minha cultura, mas sem instrumentos musicais. E agora, com a ajuda dos
meus talentosos amigos, vou cantar:

Não Mulher Não Conduzes!

Não mulher não conduzes!

Digo digo
Digo: eu lembro-me quando tu te costumavas sentar
no carro da família, mas no banco de trás
ova-ovários muito a salvo e bem
para poderes fazer muitos e muitos bebés

Bons amigos tivemos, bons amigos perdemos
na auto-estrada

Neste brilhante futuro
não podes esquecer o teu passado
portanto deixa as chaves do carro de lado

Não mulher, não conduzes!
Não mulher, não conduzes!
Ei, irmãzinha, não toques nesse volante
Não mulher, não conduzes!

Lembro-me quando tu te costumavas sentar
no carro da família, mas no banco de trás

Decerto o motorista pode levar-te a toda a parte
porque as rainhas não conduzem
mas tu podes cozinhar o meu jantar
que eu partilharei contigo

Os teus pés são a tua única carruagem,
mas só dentro de casa – e quando eu digo isto
é mesmo com intenção

Tudo vai ficar bem
Não mulher não conduzes!
Ei, irmãzinha, não toques nesse volante
Não mulher não conduzes!

O protesto das mulheres sauditas

Condutores sauditas já não estavam habituados a ver mulheres ao volante
 


Nunca se vai saber ao certo quantas foram, mas foram mais de vinte as mulheres que desafiaram este sábado a autoridade do Ministério do Interior, da monarquia e da elite religiosa ultraconservadora da Arábia Saudita, participando – ao volante – num novo protesto contra a “tradição” que proíbe a população feminina de conduzir.
May Al Sawyan foi uma das mulheres que aderiu à “campanha”, que teve origem numa “sugestão”: uma petição assinada por 17 mil pessoas a favor do direito das mulheres a conduzir. Num vídeo de quatro minutos, colocado na página de YouTube da campanha, pode ver-se Sawyan, de óculos escuros mas sem esconder a cara, a dirigir um automóvel em Riad, acompanhada apenas pela repórter de uma estação televisiva que registou o acontecimento. “Foi uma volta pequena, e correu tudo bem, Só fui até ao supermercado e de volta para casa”, explicou à Associated Press pelo telefone.

O gesto de “rebeldia” poderia ter tido consequências sérias: as autoridades avisaram que as prevaricadoras (e também os seus “cúmplices”) seriam objecto de sanções, mas May Al Sawyan estava disposta a enfrentar o risco. “Sinto-me muito feliz e orgulhosa por ninguém ter reagido contra mim. Percebi olhares de surpresa em alguns dos carros na direcção oposta, mas percebo perfeitamente: ninguém está já habituado a ver uma mulher ao volante”, lembrou.

A “campanha”, assim denominada uma vez que os protestos políticos são ilegais na Arábia Saudita, foi a terceira desde 1995. Nesse ano, a contestação levou à detenção de 50 mulheres, que além de verem os seus passaportes confiscados também perderam os empregos. Em 2011, uma nova manifestação em várias cidades também terminou com detenções: sob pressão da comunidade internacional, o rei Abdullah acabou por perdoar a pena de Shaima Jastaniya, de 34 anos, condenada a dez chicotadas por conduzir em Jidá.

Não há nenhuma lei ou regulamento a determinar que a condução de veículos está vedada à população do género feminino. A proibição resulta de uma fatwa do Grande Mufti, a principal autoridade religiosa, que nos anos 90 decretou que a condução expunha as mulheres à tentação. Dez anos mais tarde, quando se pôs a hipótese de rever esse edital, uma nova “recomendação” do supremo conselho religioso Majlis al-Ifta al-Aala, que alertou para uma “perigosa” relação de causalidade: nas sociedades onde as mulheres foram autorizadas a conduzir, o “declínio moral” e o “caos social” acentuaram-se.
 
Um relatório que foi entregue à Shura, a assembleia legislativa do reino, apontava algumas das consequências devastadoras do levantamento da proibição: o fim da virgindade, o aumento da pornografia, homossexualidade e divórcio.
 
No Twitter, multiplicaram-se as manifestações de apoio à “luta” das mulheres sauditas pelo direito à condução vindas do mundo inteiro. Agregadas pela etiqueta #women2drive, milhares de mensagens ironizavam com a situação – um dos posts mais populares foi publicado pelo músico, actor e activista Hisham Fageeh, que inventou uma nova letra para a melodia do jamaicano Bob Marley, com o título No Woman, No drive –, enquanto outras mostravam fotografias de mulheres ao volante, condenando a “opressão” e a “discriminação” reservada às sauditas.
 


24 outubro 2013

Infância sem protecção


As leis de Macau deixam muitas crianças sem meios de defesa, sobretudo, em casos de negligência e abuso dentro de casa. Patricia Ip, dirigente da Associação de Luta contra os Maus Tratos às Crianças de Macau, integra a Comissão de Direitos das Crianças de Hong Kong e participou em Genebra na última reunião da ONU para avaliar a protecção à infância em Macau. Não esteve presente qualquer organização não-governamental local.
Maria Caetano 
- O Comité dos Direitos da Criança destaca que tanto em Hong Kong como em Macau não há ainda políticas dirigidas às crianças, num nível institucional, com objectivos claros e vias para a monitorização. Como vê esta situação?
Patricia Ip – É muito triste. Isto, porque não é a primeira vez que o Comité das Nações Unidas faz esta referência, já o dizia claramente em comentários feitos em 2005, recomendando uma política infantil e uma comissão da criança ou instituição humanitária que vigie a implementação da Convenção [dos Direitos da Criança]. A resposta dos governos de Hong Kong e Macau continua a ser a de há diferentes departamentos com a tutela das questões infantis e que realizam esse objectivo. Julgo que a ONU não aceita esta resposta. Não apenas em 2005, mas novamente agora o Comité reiterou que precisamos de uma instituição ou mecanismo específico que supervisione a implementação da convenção.
- No caso específico de Hong Kong, qual tem sido a argumentação?
P.I. – A resposta do Governo de Hong Kong é a de que há diferentes departamentos com políticas para as crianças, que comunicam muito bem entre si. Estão todos sob a secretária-chefe da Administração, que zela pelos interesses das crianças. Para nós, quando cada departamento tem a sua política significa que não é uma política transversal. Além disso, há imensas questões com as quais lidar, o que significa que frequentemente as crianças não são a prioridade. Pedir à secretária-chefe que garanta a implementação de cada um dos artigos da convenção é irrealista e não funciona. Na prática, as questões relacionadas com a infância são atiradas de um departamento para outro. Os problemas não são resolvidos. É por isso que precisamos de um uma entidade independente nomeada para supervisionar o processo. Tanto em 2005 como agora o Comité de Direitos das Crianças diz claramente que este mecanismo deve seguir os ‘Princípios de Paris’, sendo independente, representando vários sectores, tendo autoridade e financiamento adequado, bem como capacidade para investigar queixas de violação dos direitos das crianças.
- Em Macau, há uma única instituição não-governamental centrada na protecção dos direitos dos menores. O Governo continua a defender que tem antes uma política de juventude.
P.I. - A Associação de Luta contra os Maus-tratos Infantis é uma organização não governamental especializada na protecção de crianças. O Governo, através do Instituto de Acção Social, também lida com estas questões. Não somos a única agência com essa responsabilidade. Mas, relativamente às justificações apresentadas pelo Governo, este refere sempre que tem uma política de juventude. No entanto, a definição de jovem vai desde os 13 anos até aos 29 anos.  Para as crianças, a definição é até aos 18 anos. Estão falhar até aos 12 anos. Além disso, muitas das questões que se colocam em relação à infância são diferentes daquelas que se colocam relativamente aos jovens. Definitivamente, uma política de juventude não cobre a Convenção dos Direitos da Criança.
- Ao nível da protecção legal das crianças, o que existe em Macau é a lei geral. Mais recentemente, discutiu-se a proposta de lei sobre a violência doméstica foi abandonada a ideia de criminalização pública que incluiria também a violência dentro de casa contra as crianças. Como vê este processo?
P.I. – Neste momento, estamos muito desiludidos. Quando a discussão começou, tínhamos esperança numa revisão legal que permitisse a denúncia de abusos ou negligência contra crianças dependesse do acto e não ficasse dependente dos pais ou tutores das crianças. Apesar de o Governo alegar que tudo o que é feito tem em vista o interesse da criança, não é claramente o caso. É possível ver nos dados entregues pelo Governo de Macau ao comité que há muito poucos casos de negligência e abuso chegam a tribunal. E em muitos deles a queixa é retirada. Isto indica claramente que a lei não está a proteger as crianças.
- O que sucede quando é o próprio encarregado do menor que é o agressor?
P.I. – Quando se trata de uma agressão física grave, pode haver iniciativa. Mas é necessário decidir o que é ‘grave’, havendo apenas um limite geral. Isto significa que só há acusação pública em casos extremamente graves e que há muitas crianças que não estão a ser protegidas pelo sistema. Depois, nos casos de abuso sexual envolvendo menores até 12 anos há também interesse público na acusação sem assentimento do tutor. Mas, para crianças com mais de 12 anos, é necessário o consentimento dos pais ou tutores. Se um deles for o agressor e ameaçar o outro, fazendo com que este não avance com a queixa, o caso é arquivado. Nestas circunstâncias, a criança acaba por ficar com a família e com o agressor, o que é altamente insatisfatório e deixa as crianças sem protecção. É por isso que defendemos que a lei da violência doméstica deve depender do acto cometido e não da vontade das vítimas.
- Qual é a principal razão para o abandono das queixas?
P.I. – Esta é uma das questões principais. No nosso trabalho em Macau, estamos cientes de situações em que as crianças são socorridas no hospital e depois um dos pais tenta levá-la embora. Os médicos não podem fazer nada, é um direito dos pais. Isto é extremamente insatisfatório.
- E, para lidar com estes casos, seria suficiente haver estatuto de crime público para violência doméstica?
P.I. – Obviamente, não é suficiente. É necessária muita sensibilização pública para que os casos sejam reportados. Uma das primeiras recomendações do Comité da ONU, em 2005 e agora, é a de que a denúncia seja considerada obrigatória. O que sucede actualmente em Macau é que os funcionários públicos estão obrigados a reportar o caso, o que já não sucede com professores, assistentes sociais e outro profissionais que possam tomar conhecimento de situações de negligência e abuso de crianças. Por outro lado, sabemos que há muitas crianças que são deixadas entregues a si mesmas em Macau – inquéritos da nossa associação mostram que muitos alunos do ensino primário são deixados sozinhos. Toda a gente aceita este tipo de situação e não a denuncia. É necessária sensibilização profissional e pública sobre o que constitui negligência e abuso infantil para podermos tomar conhecimento destes casos e ajudar estas crianças. Há ainda outra recomendação das Nações Unidas feita em 2005 e reiterada agora, na qual a organização defende a proibição dos castigos corporais em qualquer situação, mesmo dentro de casa. Isso significa que não aceitamos qualquer tipo de violência. Se a lei de Macau diz que a agressão acontece apenas quando há intenção de prejudicar, a maioria dos pais alega que o castigo é para o bem das crianças, para as tornar mais fortes. Talvez seja por isso que a violência física é tão aceite em Macau. Não é uma questão legal apenas. É preciso recuar um pouco e encontrar maneira de a população perceber o que é melhor para a criança, como a criar sem a agredir, quando denunciar. Depois, na gestão dos casos, é necessária muita formação profissional e colaboração.  É importante também perceber como os órgãos judiciários olham para estes casos. Em Hong Kong, os casos envolvendo crianças têm prioridade nos tribunais. Se este sistema não existe, passarão um, dois, três anos e muito mudará. Além disso, até à condenação não se pode forçar o agressor a sair de casa. A criança fica sob o mesmo tecto que o suspeito, sujeita a pressões e novos abusos. Falta ainda também serviços de apoio e reabilitação para estes casos, que infelizmente continuam a não existir.
- Há uma acusação bastante grave que é feita às autoridades de Macau, relativa a situações de tráfico infantil, na qual o comité fala de corrupção e conivência por parte de dirigentes públicos. O comité fez mais menções a estes casos durante as reuniões que presenciou?
P.I. – Do que me recordo, não desenvolveram muito este aspecto nas sessões de audiência. Mas o relatório, nas conclusões, mostra especial preocupação com a falta de dados. Quando os números são muito baixos, isso não significa que não haja casos. A forma de recolher os dados é importante. Julgo que o comité quer informações apenas sobre as crianças que foram resgatadas, mas também o número daquelas que foram raptadas. Os esforços para a recolha destes dados dependem do Governo. Por outro lado, há muita preocupação de que as crianças sujeitas a tráfico estejam simplesmente apenas a ser enviadas para o lado de lá da fronteira.
- Os dados parecem indicar que apesar de ter havido mais de duas dezenas de menores traficadas nos últimos anos, apenas uma foi alvo de medidas de protecção. As restantes foram repatriadas sem que se saiba mais sobre elas.
P.I. – Nestes casos, é preciso saber que tipo de cuidados de saúde e de aconselhamento precisam, diagnosticar se sofrem de trauma psicológico e encontrar forma de as reabilitar. No repatriamento, segundo sei, muitas das crianças passam a fronteira para regressarem pouco depois. Portanto, isto não está a ajudá-las. Temos regiões administrativas especiais, mas ainda somo um país. Podemos agir melhor para resolver estes problemas. A ONU preocupa-se com todas as crianças individualmente.
- Terá de haver uma base que fundamente as alegações de que há corrupção e conivência por parte dos dirigentes de Macau.
P.I.- Não sei como chegaram a esta conclusão nem de que tipo de informação dispõem.
- As reuniões envolveram todos as participantes? Pôde perceber que tipo de discussões estavam a acontecer?
P.I. – O que sucede é que no processo, os governos têm conhecimento dos artigos da convenção e preparam um relatório antes da audiência. Macau enviou o seu relatório no final de 2012. Após a leitura, o comité marcou reunião para Setembro e, cerca de seis meses antes, em Fevereiro, reuniu dados de organizações não-governamentais que puderam enviar os seus representantes e Genebra para um diálogo com os membros do comité.  A partir daí, o órgão prepara uma lista de questões para os governos onde pede informação adicional. É enviada a informação e a sessão é pública, ficando até online. Na nossa sessão, de seis horas, a maior parte das questões teve que ver com o Continente. Houve uma parte dedicada a perguntas aos dirigentes de Hong Kong e Macau. As organizações não-governamentais ficam sentadas no fim da sala e escutam apenas, não podem colocar questões.
- Refere que uma das preocupações é a de que estas vítimas menores estejam a ser repatriadas para voltarem imediatamente a seguir. Devia haver um sistema mais eficaz de identificação de criminosos e vítimas nas fronteiras?
P.I. – Porque se trata de tráfico, é necessária a colaboração entre as duas jurisdições, Continente e Macau. Tudo passa pela prevenção, detecção e reabilitação. O comité da ONU pede que se olhe para as razões que fazem com que as crianças estejam a ser  traficadas. Há que ver como as crianças estão a crescer nos diferentes países, quais os cuidados que recebem, porque são raptadas e traficadas. Há também crianças cuja situação doméstica é tal que as leva a querer atravessar a fronteira, acabando por ser sujeitas a prostituição infantil, por exemplo. É ainda necessário perceber o seu contexto de origem e aquilo para que voltam após repatriadas prevenindo que voltem a ser traficadas. É necessária muita cooperação.
- Ainda assim os menores não deviam conseguir atravessar a fronteira sozinhos. Como é que isto acontece?
P.I. – Não conheço profundamente a situação em Macau. Mas em Hong Kong, por exemplo, há formas de entrar legitimamente na fronteira ou ainda com documentos falsos. Também podem chegar de barco clandestinamente. O controlo de fronteiras é importante, mas há que verificar a autenticidade dos documentos e averiguar circunstâncias suspeitas. Poderá haver muitas formas de entrar num país ou região sem ter de passar nas fronteiras.
- Outra questão que a ONU aborda é o sistema de adopção vigente em Macau, com muitas crianças ao cuidado de instituições e não em ambiente familiar.
P.I. – Olhando para as estatísticas do relatório, vê-se que há muito poucas adopções. Há assim tão poucas crianças disponíveis para adopção? Há crianças normais a serem adoptadas. E crianças portadoras de deficiência? Como é que se está a gerir a situação destas crianças? Sei também que há preocupação em Macau com a condição de adolescentes que pretendem abdicar dos filhos, mas é necessário que tenham 18 anos para que haja adopção. Isto beneficia as crianças? Quanto mais cedo puderem ser adoptadas, melhor. Manter estes bebés em instituições não é desejável de todo. Há por outro lado um sistema de acolhimento familiar, mas para crianças entre os três e os 12 anos, que poderá ser estendido até 18 anos. Mas não para as crianças até três anos. O Comité recomenda aos governos que procurem, sistematicamente, formas de retirar as crianças das instituições, e não o contrário.

(Ponto Final - Outubro 17, 2013)

23 outubro 2013

Arábia Saudita: O Fanático e a Heroína

A Arábia Saudita é o único país do mundo que proíbe as mulheres de conduzir
 
 
 Sheikh Saleh bin Saad al-Lohaidan , um dos religiosos conservadores mais importantes da Arábia Saudita, defendeu que a condução de automóveis pode danificar os ovários das mulheres.

"Se uma mulher conduz um carro sem que seja absolutamente necessário pode sofrer consequências psicológicas negativas, já que existem estudos médicos fisiológicos que demonstram que a condução afecta automaticamente os ovários e pressiona a pélvis para cima", afirmou o xeque saudita. "Por isso achamos que aquelas que conduzem habitualmente têm crianças com problemas clínicos de diferentes níveis", assegurou numa entrevista dada à publicação digital Sabq.org.
 
 Sheikh Saleh bin Saad al-Lohaidan defendeu ainda que as mulheres que desafiam a proibição de conduzir deviam privilegiar "a razão em vez do coração, emoções e paixões". A Arábia Saudita é o único país do mundo que proíbe as mulheres de conduzir. Apesar de não exisitir uma lei específica, apenas os homens têm direito a obter carta de condução. A proibição baseia-se em fatwas (éditos) emitidos por líderes religiosos wahhabitas, corrente rigidamente puritana muito influente junto da monarquia saudita. As mulheres que forem identificadas a conduzir podem ser multadas e detidas. Na Arábia Saudita, as mulheres precisam de uma autorização por escrito do marido, pai, irmão ou mesmo do filho para sair do país, trabalhar ou até submeter-se a operações cirúrgicas.
 
Saleh al Luhaidan é conselheiro jurídico numa associação de psicólogos. Pode aconselhar o Governo e influenciar as políticias conservadoras do regime.

Um grupo de activistas lançou recentemente uma campanha para contestar a proibição de conduzir, pedindo às mulheres sauditas para saírem à rua com os seus próprios carros no próximo dia 26 de Outubro. O site que promove a acção está bloqueado no país desde hoje. A contestação contra a proibição é crescente e muitas mulheres partilham nas redes sociais e no YouTube imagens de si mesmas a conduzir. Manal al-Sharif, 32 anos, consultora de tecnologias de informação, divulgou em 2011 um vídeo em que conduzia e incentivava outras mulheres a aderir ao movimento Women2Drive. Acabou presa. Foi obrigada a pôr por escrito que não voltaria a conduzir e foi libertada dez dias depois de ter sito detida. Em Junho deste ano, Manal al-Sharif foi uma das convidadas das conferências TED. "Houve uma campanha de difamação organizada contra mim. Foi uma punição por me ter atrevido a desafiar as regras da sociedade", contou. "Tornei-me numa vilã no meu país e uma heroína no estrangeiro". Manal al-Sharif, que entretanto se tornou uma activista por esta causa, diz que lhe perguntam muitas vezes quando é que ela acha que as mulheres vão poder conduzir na Arábia Saudita. "Só se as mulheres pararem de perguntar 'quando'?"

A lunatic Saudi Arabian cleric and the women's ovaries

Driving injures women’s ovaries, says Saudi sheikh, as day of civil action planned

 

15 outubro 2013

Tráfico de crianças em Macau é “problema sério”


O turismo sexual envolvendo menores continua a ser um problema sério em Macau, referem conclusões apresentadas ontem, em Genebra, de um relatório de especialistas do Comité dos Direitos da Criança (CDE, sigla em francês).
As conclusões dos peritos indicam um aumento do tráfico e rapto de crianças para exploração sexual e laboral em Macau.

“Parece que este problema está vinculado com os casinos, os quais financiam em grande parte as despesas do Governo. Os casinos atraem este tipo de negócios, aumentando as possibilidades para jovens de serem explorados sexualmente”, disse à Agência Lusa Kirsten Sandberg, presidente do Comité dos Direitos das Crianças, que abordou a situação das crianças em vários países.
De acordo com a mesma fonte, geralmente as crianças vítimas deste tráfico provêem de toda a Ásia, incluindo Macau e continente chinês. A presidente do Comité não exclui a hipótese de as redes de tráfico destas crianças estarem relacionadas com as mesmas redes que levam empregadas domésticas das Filipinas para Macau e Hong Kong.

Por seu lado, Benyam Dawit Mezmur, vice-presidente do CDE, sublinhou a preocupação daquele organismo com a alegada conivência de oficiais do Governo com este tipo de actividades, de acordo com as informações recolhidas junto de organizações não-governamentais.
Segundo a mesma fonte, esta conivência potencia a impunidade dos responsáveis por estes crimes.

“Informações recolhidas indicam que o Governo não leva a sério este problema”, acrescentou.
Neste sentido, o comité recomenda a Macau que procure as causas destas actividades que incluem tráfico de crianças, exploração sexual de menores, prostituição, turismo sexual, venda de crianças para adopção, pornografia infantil e pedofilia.

A gravidade do problema tem de ser avaliada, assim como a identificação de crianças em risco e elaborado um programa de combate a estas actividades, referem os peritos, nas conclusões do relatório.
O CDE é um órgão das Nações Unidas criado com o objectivo de controlar a aplicação pelos países das disposições da Convenção sobre os Direitos da Criança e dos dois protocolos desta convenção relativos ao envolvimento de crianças em conflitos armados e à venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil.

Ponto Final | Outubro 10, 2013

13 outubro 2013

The Price of Sex (Trailer)


The Price of Sex is a feature-length documentary about young Eastern European women who've been drawn into a netherworld of sex trafficking and abuse. Intimate, harrowing and revealing, it is a story told by the young women who were supposed to be silenced by shame, fear and violence. Photojournalist Mimi Chakarova, who grew up in Bulgaria, takes us on a personal investigative journey, exposing the shadowy world of sex trafficking from Eastern Europe to the Middle East and Western Europe. Filming undercover and gaining extraordinary access, Chakarova illuminates how even though some women escape to tell their stories, sex trafficking thrives. Learn more at www.priceofsex.org .

The Price of Sex


Publicado em 08/05/2012


Behind the Story. Photojournalist Mimi Chakarova tells CIR about her experience filming undercover for "The Price of Sex," a documentary about young Eastern European women who have been drawn into a netherworld of sex trafficking and abuse.

The Price of Sex


Publicado em 01/10/2012


"The Price of Sex" profiles the forgotten Eastern European women who have been drawn into the netherworld of sex trafficking and abuse. It is a story told by young women who were supposed to be silenced by shame, fear and violence.

Photojournalist Mimi Chakarova, who grew up in Bulgaria, takes us on a personal investigative journey, exposing the shadowy world of sex trafficking from the isolated farms of Eastern Europe to the crowded brothels of the Middle East and Western Europe. Filming undercover and gaining extraordinary access, Chakarova gives voice to women who have escaped the illicit sex trade and are brave enough to tell their stories.

In this excerpt, Jenea details how she left her rural village in Moldova to work as a housekeeper abroad, only to wind up as a virtual prisoner in a foreign brothel, forced to work as a prostitute.

25 setembro 2013

Tese sobre Tentação da Serpente/Romance da Bíblia (Brasil)


"O romance da Bíblia: a reescrita profana de Deana Barroqueiro"


Poster de apresentação da tese de Késia Oliveira (Bolsista IC/CNPq), da Universidade Federal de Minas Gerais (Brasil), sob a orientação da Professora Dra. Lyslei Nascimento, sobre o meu romance Tentação da Serpente/Romance da Bíblia, que me deixou imensamente orgulhosa.
























 

25 julho 2013

Deana Barroqueiro A Páginas Tantas

Uma grande surpresa, que chegou no dia do meu aniversário, enviada pelo jornalista Marco Carvalho: a entrevista que ele me fez para a televisão de Macau, aquando da apresentação de "O Corsário dos Sete Mares - Fernão Mendes Pinto", a convite da Casa de Portugal.

Marco Carvalho deu-me espaço e tempo para contar histórias da nossa História, numa conversa amena e despretensiosa, com tamanha simpatia que conquistou para sempre a minha amizade.

Apesar da gripe terrível que apanhei à chegada a Macau e da febre que ainda tinha, a entrevista até nem correu mal, creio mesmo que os espectadores ficaram com uma ideia (se ainda não conheciam) do importantíssimo papel que os Portugueses tiveram em dar a conhecer à Europa o verdadeiro Oriente, até então praticamente desconhecido.

Para quem tiver pachorra para ver e ouvir...